segunda-feira, 27 de abril de 2020

A MACHADINHA


Mais uma crónica publicado em tempos no extinto jornal "o Algarve"
UMA LINDA E VERDADEIRA HISTÓRIA DE AMOR CONTADA PELA PRÓPRIA 
OU COMO A” MACHADINHA” ENCONTROU A FELICIDADE NA MARCHA DOS MACHADOS NOS BRAÇOS DE UMA MARCHANTE. 
O meu nome, MACHADINHA, foi-me dado pela minha dona, a Cidália que tem muita imaginação e um dia disse-me que esse nome estava relacionado com o sítio onde ela me encontrou – o sítio dos Machados no concelho de S. Brás de Alportel.
Mas já me estou a adiantar aos factos e a começar pelo fim. Não liguem, coisas de cão…..
Recomecemos então. Já foi há muitas luas cheias, nem sei já quantas (nós os cães contamos os dias pelas luas e até lhe uivamos. Os humanos às vezes também andam na lua, diz a minha dona, mas eu nunca vi lá nenhum) , ainda era uma inexperiente cachorra de pouca sabedoria (muito diferente da cadela esperta que hoje sou), encontrava-me meio perdida num local ermo que soube mais tarde chamar-se Machados e, eis senão quando, vejo ao longe um grupo de “marmanjos” que marchavam furiosos como se fossem “tirar alguém da forca” (esta aprendi com a minha dona, mas não sei bem o que significa). Eu costumo andar assim quando ando à procura de algum osso que utilizo para treinar os maxilares e afiar a dentuça. Como pensei que eles também andavam à procura de algum osso, colei-me a eles. Podia ser que sobrassem alguns restos para mim. Pareceu-me gente boa, foram simpáticos comigo e eu não tive qualquer medo. E assim lá chegámos a um campo onde uns “galfarros” corriam e chutavam uma coisa redonda que não tinha feito mal a ninguém. Às vezes não percebo os homens. Correm, saltam sem que desse esforço resulte a descoberta de algo que se coma. Mas a minha dona também diz que não os entende por vezes e nisso estamos de acordo e é por isso que eu gosto muito dela. Eu gosto é de correr atrás de coisas interessantes, como automóveis, bicicletas e de ladrar, até ficar rouca, aos rapazes da minha rua.
Lá estou eu outra vez a divagar (aprendi esta palavra com os marchantes que gritam uns para os outros: vai devagar, mais devagar). Retomemos a narrativa. Os homens, soube mais tarde, estavam a jogar futebol. Não havia por ali, qualquer osso ou resto de comida que me pusesse a alma no seu devido lugar e me descolasse as paredes do estômago. Tinha sido, miseravelmente, enganada. E por ali fui ficando, triste, macambúzia e o que é pior, faminta. Mas uma simpática senhora começou a fazer-me umas festas (gosto mais de festas de homens porque eu sou muito “gaja”, percebem? - mas foi o que se pode arranjar), engraçou comigo e eu com ela. Soube, mais tarde, que os humanos chamavam a este sentimento de “amor à primeira vista”. A senhora convidou-me para ir com ela para a sua casa de Albufeira e eu como nunca recuso convites destes, aceitei ladrando e esfregando-me nela, o que em linguagem de cão significa sim. Além da senhora ser simpática também ajudou muito ela ser de Albufeira. É que me disseram que em Albufeira era um sítio onde havia muitos ossos e muitos bifes. É que eu, também gosto muito, além de roer um bom osso, de comer um belo bife (seja lá o que isso é).
E assim lá entrei numa coisa grande de 4 rodas (era tão grande que até eu tive medo de lá entrar) e lá fui até à casa da tal senhora que fiquei a saber chamar-se Cidália.
Ainda hoje sou feliz nessa casa apesar de descobrir que bifes não eram o que pensava. Os bifes que por ali há em grande quantidade não são para os dentes cá da “je” (os cães educados também sabem falar francês). Também sei inglês – sei dizer “camone”, “gudmorningue”, e “chite”. Aqui em Albufeira quem não spikar línguas é tratado abaixo de cão.
A minha dona ainda, de vez em quando, me leva a essa coisa que ela chama de marchas. E vou voltar aos Machados no próximo Domingo, para matar saudades, mas não pensar sequer em ficar lá. Eu gosto é de Albufeira, uma terra muito turística. Até já lá arrastei a asa a um cãozinho inglês, todo penteado, com um laçarote na cabeça, cheio de peneiras. Ladrei-lhe com ar de conquistadora, mas o parvo não percebeu nada. A minha dona diz para eu não ligar, que os ingleses não conseguem aprender a falar português e que eu, um dia, hei-de encontrar um bom cão português, trabalhador, com bons dentes, boa língua e um bom faro para me ajudar a descobrir aquilo que gosto mais: um bom osso.
Mas o que eu gosto mesmo é de ver aqueles marchantes ao Domingo, todos contentes a divertirem-se e a cuidarem da sua saúde. É que foram eles que fizeram de mim aquilo que eu sou hoje – UMA CADELA FELIZ.
Moral da história: até os cães gostam das marchas.
(A Machadinha já faleceu, mas enquanto viveu frequentou as nossas marchas sempre na companhia da Cidália, uma boa amiga de Albufeira, que a recolheu em Machados e a tratou como família).

terça-feira, 14 de abril de 2020

O CASAL MARTINS

O CASAL MARTINS
 Há pessoas que justificam plenamente o significado de determinados ditos populares. A “vox populi” do “antes quebrar que torcer” aplica-se perfeitamente ao casal Martins.

Mas passemos aos factos.
O casal Martins resolveu iniciar-se nestas marchantes lides exactamente numa caminhada organizada em Estoi e cujo percurso foi objecto de uma malévola sabotagem. Alguém, irresponsavelmente, resolveu retirar toda a sinalização indicativa do percurso, colocada previamente pelos organizadores. O resultado de tão estúpida atitude foi que um percurso de 9 km se transformou num de 16, 17 ou 18 Km, o que nos proporcionou uma visita, não guiada, por serras nunca dantes visitadas e uma passagem pela simpática aldeia de Pechão de onde, e a partir daí, e seguindo pela estrada, conseguimos atingir o local da partida.
O casal Martins, estreante nestas andanças, com os músculos habituados a uma vida sedentária lá se arrastou estoicamente até ao final. Hoje recordam os terríveis dias seguintes. A “ressaca” foi de “caixão à cova”. A cama era o melhor sítio do mundo, não por quaisquer motivos inconfessáveis de luxúria, mas porque as pernas se recusavam a obedecer ao cérebro. As articulações doridas, os músculos gelatinosos, as passadas vacilantes como se umas litradas de tintol alentejano potenciadas por uns valentes copázios de medronho de Sta Margarida-Alte, terra onde nasceram, foram a companhia dos dias seguintes. Foram quatro ou cinco dias a andar de pernas abertas como se algum brutal inchaço os impedisse de as fechar e caminhar como qualquer ser humano direito e escorreito.
Já estou a imaginar o raciocínio de quem me lê neste momento: “O casal Martins perante tal flagelação nunca mais colocou os seus martirizados pezinhos nas marchas não fosse a dose ser repetida”.
Pois estais “vocemessês” todos enganados. No Domingo seguinte (aqui fica bem voltarmos à frase “antes quebrar que torcer”) lá estavam novamente, disfarçando as mazelas ainda não totalmente debeladas, marchando garbosamente, vencendo facilmente os agora só 9 km da marcha desse Domingo, esta sim marcada com todos “os matadores”.
O casal Martins continua a brindar-nos com a sua presença. São dos mais antigos marchantes.
A Lúcia e o Ludgero constituem o casal Martins. Permitem-me o privilégio de lhes chamar amigos. As marchas deram-me esta riqueza de conhecer, entre muitas outras, duas pessoas extraordinárias, generosas, de uma simpatia transbordante. Fazem parte daquele nosso grupo que prolonga o prazer da marcha ao longo de todo o Domingo, almoçando connosco, visitando locais de interesse, convivendo, acumulando energias que lhes permitem enfrentar a semana mais revigorados, mas sempre sonhando com o Domingo seguinte onde, novamente, o reencontro é obrigatório.
(O Ludgero atravessa, neste momento, uma fase difícil da sua vida. Um miserável cancro obriga-o a uma operação no IPO e tratamentos de radioterapia algo dolorosos. A recordação deste conto publicado no extinto jornal O Algarve, é a nossa homenagem ao casal, com os votos muito sinceros que, à semelhança da primeira marcha onde demasiados quilómetros foram percorridos, esta marcha seja ultrapassada com sucesso e no futuro muito próximo outras marchas nos juntarão).

domingo, 12 de abril de 2020

OPERAÇÃO PLÁSTICA

Uma mulher decide fazer uma operação de estética aos 50 anos. A operação custou-lhe cerca de €10.000 mas ela ficou muito satisfeita com o resultado. Ao voltar a casa, pára num quiosque para comprar uma revista. Então, não se contendo e pergunta ao empregado:
 - “Espero que não se importe que lhe pergunte: quantos anos me dá?”
- “Cerca de 32” - respondeu o homem.
- “Engana-se, tenho exactamente 50” - disse sorrindo.
 Pouco tempo depois, entra num  McDonald’s e faz a mesma pergunta à empregada que a atendia. A rapariga responde:
 - “Talvez uns 29”.
Com um grande sorriso ela responde:
- “Nada disso, tenho 50”.
Entra num café para beber uma bica e, uma vez mais, faz a mesma pergunta. O empregado responde:
- “Talvez uns 30”.
Orgulhosamente, responde:
 - “Tenho 50, mas obrigado pela simpatia”.
 Enquanto aguardava o autocarro para voltar a casa, ela faz a mesma pergunta a um idoso a seu lado. Mas ele responde:
 - “Minha senhora, tenho 78 anos e a minha vista já não é o que era. No entanto, quando era mais novo raramente me enganava sobre a idade de uma mulher. Não quero parecer abusador, mas se me deixar apalpar os seios posso dizer com exactidão a sua idade”.
A mulher ficou atónita, mas cheia de curiosidade. Por fim, balbuciou:
- “Vamos a isso”
Então ele deslizou as mãos por debaixo da blusa da “jovem” e começou a apalpar cada seio, beliscando os mamilos. Após alguns minutos de desconforto ela diz:
- “Ok, já chega... que idade tenho?”
Ele tira as mãos, abotoa-lhe a blusa e responde:
- “A senhora tem 50 anos”
Espantada e até um pouco atordoada ela diz-lhe:
 - “Incrível, como conseguiu?”
O velhote com ar malandro responde:
- “Promete que não se zanga?”
- “Prometo que não” - disse ela.
- “Eu estava atrás da senhora na fila do McDonald’s...”

quarta-feira, 8 de abril de 2020

UMA HISTÓRIA VERÍDICA NA SERRA DE SILVES


Uma história real na Serra de Silves

Silves é um concelho com história e com locais de visita de extraordinário interesse. Há vestígios da presença humana desde a Pré-História e da ocupação romana e muçulmana.
Foi em 1189 que se pensa ter sido efectuada a conquista cristã protagonizada pelo nosso rei D. Sancho I. Mas parece ter sido D. Afonso III, depois de umas batalhas à moda daqueles tempos (ora agora conquistas tu, ora agora conquisto eu) que definitivamente nos instalámos no concelho de Silves e também em todo o Algarve, banindo definitivamente os muçulmanos. Ainda hoje os árabes reivindicam estas terras como deles e, patriotismos à parte, até é um assunto que merece discussão aprofundada.
Mas a razão desta pseudo-historieta não é contar a história do concelho de Silves (há pessoas mais abalizadas para o fazer), mas sim a história de outras “guerras” com outros protagonistas.
Muitos ainda se lembrarão de uma belíssima marcha realizada em plena serra a norte da barragem do Arade. Os marchantes calcorreavam aqueles montes, vencendo os obstáculos naturais com maior ou menor esforço, mas sempre com a habitual alegria, empurrados pela bucólica paisagem, pelo cheiro das estevas, pelo ar puro e pelo chilrear da passarada (um pouco de poesia não fica nada mal nestas coisas). E até a imagem típica do apicultor ao lado do nosso trajecto, retirando o mel das suas colmeias, completava um quadro motivador à superação do cansaço. 
As abelhas esvoaçavam ao nosso redor, parecendo que nos saudavam pela nossa chegada, como que pedindo ajuda contra o “ladrão” que lhes roubava o mel .
Um dos marchantes, que seguia na frente da coluna, incomodado com o zumbido resolveu agitar os braços para afastar as abelhas.
É sabido que, por altura da colheita do mel, as abelhas andam “assim a modos que nervosas” porque estão a ver o seu laborioso trabalho de colheita em mil flores, para posterior transformação industrial, a ser roubado sem qualquer pagamento e sem terem recebido, sequer, o ordenado mínimo. 
Também é conhecida a solidariedade das abelhas, a sua unidade na defesa da colmeia e das colegas e, perante a desfaçatez do ataque inopinado do marchante, o enxame, já “picado” pelo apicultor, à semelhança do nosso antepassado Afonso III e, utilizando a conhecida táctica militar “todos ao molhe”, resolve atacar a coluna de 500 marchantes.
A derrota foi total e aviltante. Dos marchantes, claro.
A retirada foi mais espectacular que a fuga dos castelhanos à frente de D. Nuno Álvares Pereira na batalha de Aljubarrota.
A infantaria corria, desordenadamente, debaixo dos voos picados da aviação inimiga. Os Kamikases ferroavam em tudo o que mexia apontando às cabeças, aos braços e às pernas. 
Ainda recordo a imagem do meu amigo Jesuíno a despir a camisola para que eu lhe sacudisse uma “apis mellifera” atrevida que lhe tinha (salvo seja e com todo o respeito e simpatia) saltado para as costas enquanto o exército derrotado ao primeiro ataque fugia desordenadamente, tropeçando, caindo, atropelando.
Como diria Camões no canto IX dos Lusíadas: “melhor é experimentá-lo que julgá-lo, mas julgue-o quem não pode experimentá-lo” (referia-se a outros carnavais, mas uma citação fica sempre bem).
No final da batalha só restava contar as baixas, lamber as feridas, inventariar os destroços, esconder o orgulho ferido, mal disfarçado perante os joelhos ensanguentados, as mãos esfoladas, as camisolas rasgadas, os óculos partidos e, claro, os milhares de babas nas preciosas cútis de quase todos os invasores. 
O que os muçulmanos não conseguiram, conseguiu um vulgar enxame de abelhas: a reconquista, não de todo o Algarve, mas de uma nesga de território no concelho de Silves.
Ainda hoje tenho receio de ali passar, não vá alguma abelha vitoriosa reconhecer um inimigo do passado e fazer-me prisioneiro.
(Jorge Lopes, no extinto jornal "O Algarve")

sábado, 4 de abril de 2020

EXTRAS

Um agricultor vai a um stand comprar uma Toyota Hilux e fica indignado pelo acréscimo enorme do preço devido às opções que escolhe.
Pouco tempo depois o director da concessionária compra uma vaca ao agricultor para colocar numa pequena quinta que possui no Alentejo.
Transcrevemos a seguir a factura enviada pelo agricultor ao concessionário do stand:
1 vaca……………………………………………………….. 2.000 euros
2 cores (preto e branco)…………………………..   500
Revestimento total em couro…………………..1.000
Reservatório de leite………………………………..   500
Para-choque (chifres)………………………………..   200
4 tetas (50 cada)……………………………………….   200
Espanta moscas semi-automático (rabo)…   300
Dispositivo eliminador de esterco…………….   500
Sistema de tracção às 4 patas………………….2.000
Versão todo o terreno……………………………....1.000

Total………………………………………….  8.200