segunda-feira, 2 de maio de 2011

AS NOSSAS CRÓNICAS DO JORNAL "O ALGARVE"

A ARCA DE NOÉ REVISITADA
Em tempos muito remotos o mundo, tal como hoje, era um coito de gentinha criminosa e corrupta. Deus decide, depois de muito matutar e auscultar os seus conselheiros, libertar o mundo dessa camarilha, poupando somente o único homem bom que o habitava : Noé.
Ordena-lhe, em segredo, que construa uma gigantesca Arca, que albergue nela toda a sua família, e um casal de cada espécie animal existente na Terra.
Deus, então, abre as torneiras do céu e inunda toda a Terra, afogando todo o ser vivo que não teve a sorte de ser seleccionado como passageiro da Arca. Enfim, uma discriminação muito criticada pelos partidos políticos da oposição, sempre no contra, cujos líderes, devido a uma fuga de informação, muito habitual naqueles tempos, tiveram conhecimento, em tempo, do que se preparava e se refugiaram, quais ratazanas, clandestinamente, no esconso porão da Arca. Tal como hoje, os chefes salvam a pele e o povinho é que se trama.
Depois de meses de navegação errática (com tanta chuva o GPS avariou), a Arca encalhou em solo firme. E os sobreviventes deram origem aos povos que hoje conhecemos. A família de Noé reproduziu-se e hoje constituem o limitado nicho de população honesta, pura, sem mácula. São poucos, mas resistentes à luxúria que os cerca. Os outros, os clandestinos da Arca, deram origem à malandragem que pulula por todo o lado. São os actuais corruptos, criminosos e devassos.
Foi uma primeira tentativa falhada e ingénua de Deus, nessa sua intenção de limpar a corrupção que grassava no mundo.
Recentemente tivemos acesso ao Facebook do Arcanjo Gabriel (pertence ao nosso grupo de amigos) onde se especulava sobre o novo plano de limpeza que está a ser congeminado por Deus: um novo dilúvio. Segundo Gabriel, Deus reuniu com o seu conselho de estado, e há uma fortíssima corrente de opinião a favor do extermínio da actual, corrupta, humanidade. Os únicos conselheiros contra tal desiderato são a Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II, de enorme bondade, muito próximos de Deus, e com muita influência nas suas decisões. No entanto, um grupo da oposição, muito coeso exige uma actuação rápida. Hitler aconselha o uso de gás letal. Nero, antigo imperador romano, propõe que se atei fogo a todo o planeta transformando os seres humanos em feéricas tochas. Sabe-se que encomendou uma harpa através do conhecido “site” www.harpasdodemo.com, e a compor um salmo, para entoar enquanto o incêndio perdurar. Judas, apesar da sua pouca influência junto de Deus, sugere o extermínio total, mas, sempre materialista, exige a preservação de todas as riquezas existentes.
Perante estas opiniões tão antagónicas, Deus está dividido. Infinitamente bom, não quer desgostar ninguém. E resolve, depois de muito meditar, e de muitas pesquisas na net, reeditar uma segunda versão do dilúvio universal, a aplicar em data a combinar. E resolve, contentando todos, testar os efeitos, na humanidade, de mini dilúvios em zonas previamente seleccionadas.
Uma dessas experiências decorreu na zona de Conceição e Cabanas, no concelho de Tavira, às 10 horas da manhã do dia 8 de Dezembro, e coincidiu com a marcha programada para esse dia, apanhando desprevenidos alguns de nós, heróicos marchantes.
A experiência divina foi um sucesso estrondoso, e um extraordinário ensaio para o apoteótico dilúvio final. Os relâmpagos, os trovões, sucediam-se para gáudio de Nero, o cheiro a enxofre contentava Hitler. A água jorrava em catadupa. As ruas de Cabanas transformadas em caudaloso rio, desapareceram. Os marchantes, indómitos, enfrentavam corajosamente a formidável experiência de Deus. A água subia pelos artelhos, pela canela, até aos joelhos, enquanto o fogo crepitava sobre as suas cabeças. A harpa de Nero ressoava nos seus fustigados ouvidos. O João Carmo, o Zé Maria, o Tinoco, o Pacheco, quais ciclopes, arrostavam com os ventos, as águas, o fogo.
E aos 30 minutos Deus descansou. A experiência tinha sido um sucesso. Hitler e Nero salivavam na expectativa do dia do juízo final, que anseiam cada vez mais perto. Madre Teresa e João Paulo, aliviados, agradeciam a contenção divina.
E nós, marchantes, no âmago da acção, protagonistas da experiência, ficámos com uma história para contar. E logo ali, os sobreviventes do apocalipse, constituíram-se em grupo de pressão e de apoio massivo em futuras eleições, ao PSH (Partido da Salvação da Humanidade) da Teresa e João Paulo, contra o PDH (Partido da Destruição da Humanidade) de Hitler e Nero. Juntem-se a nós e votemos em massa na preservação da espécie humana e manifestemo-nos domingo a domingo, nas nossas marchas, contra este tipo de experiências divinas. Marchantes unidos, jamais serão vencidos!
Jorge Lopes

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