A marcha de Barão de S. João anulada, devido à chuva, recordou-me uma crónica publicada no extinto jornal "O Algarve".
Era assim:
CONCURSO TSHIRT MOLHADA
João (nome
fictício a pedido do próprio) é um marchante entusiasta. Nada o impede de
comparecer todos os Domingos, faça chuva ou faça sol, nos nossos encontros
dominicais.
O João
faz-me recordar o meu amigo Paulo que reside numa conhecida aldeia algarvia, ao
pé da igreja e na rua que acede ao cemitério. Sempre que um funeral lhe passa à
porta o bom do Paulo sai imediatamente de casa e acompanha o féretro, sem mesmo
cuidar de saber a identidade do falecido. Um amigo comum costuma dizer que
quando não virmos o Paulo a acompanhar o funeral é porque ele vai dentro do
caixão. Apesar de mal comparado e da morbidez desta crónica (espero ser
perdoado) o João é tal e qual o Paulo. Quando não virmos o João numa marcha é
porque essa marcha não existe.
Ora na
marcha do dia 29 de Novembro do passado ano, em Espiche, todos estão lembrados
que, logo no início, um dilúvio desabou sobre os corajosos marchantes. Muitos
desistiram de enfrentar os elementos, abrigando-se nos cafés e telheiros mais
próximos, mas o João com o seu tradicional entusiasmo, insensível à chuva,
acompanhado pelos habituais e indefectíveis “maduros”, não prescinde do seu
dominical exercício físico e lá vai ele à frente do pequeno pelotão de
corajosos.
Naquele
Domingo o João vestia uma camisola de material sintético, que depois de
absorver tanta água se tornou mais rija e abrasiva. O vento e os movimentos da
marcha contribuíam para que a camisola roçasse no peito e friccionasse,
ferindo, os mamilos endurecidos pelo frio.
No final da
marcha, ainda a quente, o João queixava-se que lhe doíam as mamas. Aproveitámos
a deixa e insinuámos, malevolamente, que talvez por qualquer fenómeno
inexplicável, ele estaria a mudar de sexo, sendo o primeiro sintoma o
crescimento anormal dos seios. O João, homem bem-humorado, que aceita todas as
brincadeiras, porque sabe da camaradagem e amizade com que são proferidas,
mandava-nos, simpaticamente ... “à fava”.
Na marcha
do Domingo seguinte, em Albufeira, senti curiosidade em saber do estado de
saúde dos mamilos do João e do tratamento que ele lhes tinha dado. O malandro,
rindo desalmadamente, conta-me que ainda mantinha, orgulhosamente, a sua
masculinidade, que a mudança de sexo não se tinha processado e que os
ferimentos nos seios tinham contribuído para um final feliz. Deixo-vos as
palavras proferidas pelo João, acompanhadas de saudáveis e ruidosas
gargalhadas: “A minha mulher levou a semana toda a besuntar-me os mamilos com
vaselina. Foi uma semana fantástica de consequências inconfessáveis. Sabes que vou
usar sempre, a partir de agora a mesma camisola e, se não chover, despejarei umas litradas de água no meu peito, até que a minha mulher não desconfie
da marosca”.
É este o
espírito das marchas. Alegria, brincadeira, amizade e saudável exercício
físico. Bastam umas sapatilhas cómodas, uns calções ou fato de treino e uma
camisola, para usufruir dos benefícios da marcha e da alegria com que as mesmas
decorrem.
(Jorge Lopes)
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