segunda-feira, 4 de outubro de 2021

ENCERRAMENTO

 Por desnecessário resolvemos terminar este blog. Podem continuar a ver-nos na página de Facebook com o mesmo nome.  Criámos esta página com o intuito da promoção da marca/corrida do Programa Nacional de Marcha/Corrida do IPDJ. Com o aparecimento dos grupos informais esta página cumpriu o seu dever de promoção de todos ou quase todos os grupos que foram surgindo no Algarve e que puseram a mexer milhares de algarvios. 

Com o aparecimento do Facebook a blogosfera perdeu influência e esta página acompanhou esse declínio.

Continuamos a nossa actividade voluntária noutra plataforma. 

Obrigado a quem por aqui andou durante tantos anos.

Jorge Lopes

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

ANIVERSÁRIO DO CORRIDAS À 6ª FEIRA - 07-08-2020

Foi em 9 de Agosto de 2013 que tudo começou. Foram 10 os campeões que resolveram aparecer na praia do Barril e aproveitar a maré vazia para uma corrida até ao molhe da ilha de Tavira, apreciarem as estrelas e voltarem ao local de partida. Os nomes dos fundadores merecem figurar mais uma vez aqui: Carlos Godinho, José Colaço Afonso, Miguel Domingos, José Pimenta, Sílvio Horta, Isac Vilhena, Tânia Cabrita Xavier, Lénia Gamito, Délio Brito e Luís Santos.

Durante 6 anos o aniversário foi sempre no local de origem, com a repetição da corrida fundadora e uma comemoração final apoteótica.

Este ano, dada a situação sanitária do país, o Corridas festejou, simbolicamente, mais um aniversário. Não foi ver as estrelas na praia do Barril, mas reuniu no Moinho das Estrelas, ali para os lados de Sta Bárbara de Nexe. Foram convidados os líderes dos grupos informais alguns voluntários excelentíssimos e os imitadores de fotógrafo. Pretendeu-se dar às festividades um caracter representativo, já que organizar um evento com a presença de todos os habituais participantes (isso seria o ideal), constituiria uma violação das normas que, nesta famigerada fase das nossas vidas, presidem a este tipo de eventos. Foi uma cerimónia simples, com bolo da Rosinha, a nossa actual "primeira dama" e a presença do culpado disto tudo, o Luís Santos. O parabéns a você foi o ponto alto. Foi singelo, breve, mas muito significativo.
Para o ano há mais, esperemos que seja com a normalidade dos anos anteriores.
Votos de boa saúde para todos.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

CORRIDAS À 6ª FEIRA - O RECOMEÇO - 05-06-2020 - ALVOR

Campeões, temos o prazer de informar que, em Junho, iremos retomar os nossos eventos “Sempre à 6ª Feira, Sempre em Locais Diferentes”. O horário é que terá uma adaptação, mas já iremos explicar.
Coincidente com a terceira fase do Desconfinamento, iremos voltar a promover a prática desportiva em grupo, de forma informal e sem qualquer fim lucrativo ou competitivo. Um incentivo à prática desportiva e de hábitos de vida mais saudáveis, que poderá decorrer em qualquer um dos 16 concelhos do Algarve, alternando entre Sotavento e Barlavento, entre Litoral e Interior, entre Plano ou subida a Cerro, entre mais Fácil ou mais Difícil.
Queremos continuar a formar Campeões no Algarve e, para isso, iremos adaptar os nossos eventos à “nova normalidade” de forma a evitar qualquer situação que possa ir contra as normas que estão a ser aplicadas para a abertura dos restantes espaços comerciais e de restauração, espaços de lazer ou culturais. 
Nesta nova “normalidade”, os nossos eventos continuam a não ter limite de participantes. Mas a organização irá proceder às devidas alterações para garantir que não se formam grupos de mais de 10 pessoas, o mesmo limite que foi definido para a abertura da época balnear.
Assim, são estas as normas que iremos aplicar nos próximos eventos e até indicação em contrário:
1) Os eventos passam a ter hora de início entre as 20:00 e as 20:45. Deixa de haver uma partida conjunta. Às 20:45 será feita a saída do grupo de dois ou mais campeões que irá proceder à recolha do material de marcação dos percursos;
2) Os Campeões que chegam ao ponto de partida e chegada de cada evento, devem começar de imediato a fazer um dos percursos que estão marcados;
3) Caso estejam à espera de alguém para vos acompanhar no evento, devem aguardar no interior ou junto da viatura onde se deslocaram para o evento, ou sempre a garantir um distanciamento de outros campeões que possam estar no local. Não se podem formar grupos de mais de 10 pessoas;
4) Não será feita “Foto de Grupo”, nem será promovida qualquer acção que leve à concentração de campeões numa determinada área;
5) Todas as indicações ou avisos sobre os percursos que sejam fundamentais transmitir, serão feitos de forma individual aos campeões que comecem a atividade assim que chegarem ao local de partida de chegada de cada evento;
6) Os percursos vão estar sempre marcados e irá haver voluntários ao longo do percurso sempre que seja necessário;
7) Não irá haver qualquer abastecimento ao longo dos percursos. Cada campeão deverá providenciar o seu abastecimento líquido ou sólido;
8) Não irá haver qualquer abastecimento no final dos percursos;
9) Cada Campeão, ao concluir o percurso, deverá executar os aconselhados exercícios de alongamento, sempre a garantir o devido distanciamento físico de segurança e, de seguida, deverá abandonar o local;
10) Não serão facilitados ou promovidos acessos a espaços privados, a balneários ou instalações sanitárias;
11) No final de cada evento, no local da chegada, solicitamos a todos os Campeões que não organizem ou promovam qualquer convívio para partilha de comida ou bebida. Se for o caso, deverão ausentar-se do local da chegada dos restantes participantes;
12) Não deverá haver uso de máscara durante a prática de exercício físico;
Estas são as normas que consideramos serem capazes de adaptar os nossos eventos à “nova normalidade”. Iremos ver o que sucede nos próximos eventos e, se necessário, procederemos às devidas adaptações.
As regras podem existir mas, o ponto fundamental é o cumprimento das mesmas por todos os Campeões. Sobretudo, haver sempre bom senso. Se assim suceder, acreditamos que tudo poderá decorrer da melhor forma nesta “nova normalidade”.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

O CONTADOR, OS IMPOSTOS E O CÃO

Mais uma historia publicada no extinto jornal "O Algarve":
O CONTADOR, OS IMPOSTOS E O CÃO
Em tempos publicamos neste blogue e no jornal "O Algarve" a história de “O contador”. Nela enaltecíamos os dotes atléticos do nosso amigo Dias (hoje bastante diminuídos devido a uma arreliadora hérnia discal) que domingo a domingo nos assombrava com uma demonstração de poder físico, ultrapassando os obstáculos com enorme facilidade e suprema frescura. Em 18 de Dezembro de 2009 escrevíamos:”…e insatisfeito com a “humilhação” que nos infligia Domingo a Domingo, ainda tinha o topete e a força física para, ao chegar à meta, retroceder e estabelecer uma ordem de chegada numerando os marchantes à medida que se cruzava com eles.
A voz do Dias era inconfundível: “você é o décimo primeiro, você é o número vinte e cinco, você é o quadragésimo”, e assim sucessivamente até se aborrecer e voltar novamente no sentido correcto repisando terreno, já por ele calcorreado, irradiando uma frescura que faria inveja a qualquer imitação de Carlos Lopes”. Quando mais alto era o número naquela classificação, maior era o desânimo, maior era a vontade de mandar o Dias “contar os marchantes para o … outro lado”. Mas era um espectáculo dentro de outro espectáculo. 
Como é do conhecimento de todos, o nosso Dias, antes da merecida reforma que hoje goza, e que o aliviou das agruras do stress diário, era um conceituado chefe de finanças. Exercia este mister com grande profissionalismo, competência e enorme rigor. Implacável no cumprimento das leis fiscais, terror dos incumpridores. Aplicava na sua área de jurisdição o conhecido ditado popular “o sol quando nasce é para todos”. 
Um dia, numa marcha serrana, caminhando pelos trilhos do interior algarvio, cruzámo-nos com um rebanho de ovelhas devidamente enquadradas pelo pastor e o seu cão. Éramos um pequeno grupo de marchantes, vanguarda do pelotão, de algumas centenas, que nos precedia. O cão pastor pouco habituado a estas estranhas incursões no território que julgava seu, resolve atacar o grupo de invasores, e não é que de entre todos nós escolhe as atléticas canelas do nosso Dias, espetando-lhe os afiados dentes na barriga de uma perna provocando-lhe um tal ferimento que justificou posterior tratamento hospitalar. Preocupados com o estado de saúde do nosso amigo tentámos consolá-lo e animá-lo, mas juro que ouvi, com estes ouvidos que a terra um dia há-de comer, uma voz murmurando baixinho, sem que eu a identificasse, nem tal foi do meu interesse, o seguinte: “Aquele cão não liquidou algum imposto a horas, foi multado e agora teve o supremo prazer da vingança”. E outra voz ao lado ainda mais sussurrante: “… e serve-se fria…”.
Jorge Lopes

segunda-feira, 27 de abril de 2020

A MACHADINHA


Mais uma crónica publicado em tempos no extinto jornal "o Algarve"
UMA LINDA E VERDADEIRA HISTÓRIA DE AMOR CONTADA PELA PRÓPRIA 
OU COMO A” MACHADINHA” ENCONTROU A FELICIDADE NA MARCHA DOS MACHADOS NOS BRAÇOS DE UMA MARCHANTE. 
O meu nome, MACHADINHA, foi-me dado pela minha dona, a Cidália que tem muita imaginação e um dia disse-me que esse nome estava relacionado com o sítio onde ela me encontrou – o sítio dos Machados no concelho de S. Brás de Alportel.
Mas já me estou a adiantar aos factos e a começar pelo fim. Não liguem, coisas de cão…..
Recomecemos então. Já foi há muitas luas cheias, nem sei já quantas (nós os cães contamos os dias pelas luas e até lhe uivamos. Os humanos às vezes também andam na lua, diz a minha dona, mas eu nunca vi lá nenhum) , ainda era uma inexperiente cachorra de pouca sabedoria (muito diferente da cadela esperta que hoje sou), encontrava-me meio perdida num local ermo que soube mais tarde chamar-se Machados e, eis senão quando, vejo ao longe um grupo de “marmanjos” que marchavam furiosos como se fossem “tirar alguém da forca” (esta aprendi com a minha dona, mas não sei bem o que significa). Eu costumo andar assim quando ando à procura de algum osso que utilizo para treinar os maxilares e afiar a dentuça. Como pensei que eles também andavam à procura de algum osso, colei-me a eles. Podia ser que sobrassem alguns restos para mim. Pareceu-me gente boa, foram simpáticos comigo e eu não tive qualquer medo. E assim lá chegámos a um campo onde uns “galfarros” corriam e chutavam uma coisa redonda que não tinha feito mal a ninguém. Às vezes não percebo os homens. Correm, saltam sem que desse esforço resulte a descoberta de algo que se coma. Mas a minha dona também diz que não os entende por vezes e nisso estamos de acordo e é por isso que eu gosto muito dela. Eu gosto é de correr atrás de coisas interessantes, como automóveis, bicicletas e de ladrar, até ficar rouca, aos rapazes da minha rua.
Lá estou eu outra vez a divagar (aprendi esta palavra com os marchantes que gritam uns para os outros: vai devagar, mais devagar). Retomemos a narrativa. Os homens, soube mais tarde, estavam a jogar futebol. Não havia por ali, qualquer osso ou resto de comida que me pusesse a alma no seu devido lugar e me descolasse as paredes do estômago. Tinha sido, miseravelmente, enganada. E por ali fui ficando, triste, macambúzia e o que é pior, faminta. Mas uma simpática senhora começou a fazer-me umas festas (gosto mais de festas de homens porque eu sou muito “gaja”, percebem? - mas foi o que se pode arranjar), engraçou comigo e eu com ela. Soube, mais tarde, que os humanos chamavam a este sentimento de “amor à primeira vista”. A senhora convidou-me para ir com ela para a sua casa de Albufeira e eu como nunca recuso convites destes, aceitei ladrando e esfregando-me nela, o que em linguagem de cão significa sim. Além da senhora ser simpática também ajudou muito ela ser de Albufeira. É que me disseram que em Albufeira era um sítio onde havia muitos ossos e muitos bifes. É que eu, também gosto muito, além de roer um bom osso, de comer um belo bife (seja lá o que isso é).
E assim lá entrei numa coisa grande de 4 rodas (era tão grande que até eu tive medo de lá entrar) e lá fui até à casa da tal senhora que fiquei a saber chamar-se Cidália.
Ainda hoje sou feliz nessa casa apesar de descobrir que bifes não eram o que pensava. Os bifes que por ali há em grande quantidade não são para os dentes cá da “je” (os cães educados também sabem falar francês). Também sei inglês – sei dizer “camone”, “gudmorningue”, e “chite”. Aqui em Albufeira quem não spikar línguas é tratado abaixo de cão.
A minha dona ainda, de vez em quando, me leva a essa coisa que ela chama de marchas. E vou voltar aos Machados no próximo Domingo, para matar saudades, mas não pensar sequer em ficar lá. Eu gosto é de Albufeira, uma terra muito turística. Até já lá arrastei a asa a um cãozinho inglês, todo penteado, com um laçarote na cabeça, cheio de peneiras. Ladrei-lhe com ar de conquistadora, mas o parvo não percebeu nada. A minha dona diz para eu não ligar, que os ingleses não conseguem aprender a falar português e que eu, um dia, hei-de encontrar um bom cão português, trabalhador, com bons dentes, boa língua e um bom faro para me ajudar a descobrir aquilo que gosto mais: um bom osso.
Mas o que eu gosto mesmo é de ver aqueles marchantes ao Domingo, todos contentes a divertirem-se e a cuidarem da sua saúde. É que foram eles que fizeram de mim aquilo que eu sou hoje – UMA CADELA FELIZ.
Moral da história: até os cães gostam das marchas.
(A Machadinha já faleceu, mas enquanto viveu frequentou as nossas marchas sempre na companhia da Cidália, uma boa amiga de Albufeira, que a recolheu em Machados e a tratou como família).

terça-feira, 14 de abril de 2020

O CASAL MARTINS

O CASAL MARTINS
 Há pessoas que justificam plenamente o significado de determinados ditos populares. A “vox populi” do “antes quebrar que torcer” aplica-se perfeitamente ao casal Martins.

Mas passemos aos factos.
O casal Martins resolveu iniciar-se nestas marchantes lides exactamente numa caminhada organizada em Estoi e cujo percurso foi objecto de uma malévola sabotagem. Alguém, irresponsavelmente, resolveu retirar toda a sinalização indicativa do percurso, colocada previamente pelos organizadores. O resultado de tão estúpida atitude foi que um percurso de 9 km se transformou num de 16, 17 ou 18 Km, o que nos proporcionou uma visita, não guiada, por serras nunca dantes visitadas e uma passagem pela simpática aldeia de Pechão de onde, e a partir daí, e seguindo pela estrada, conseguimos atingir o local da partida.
O casal Martins, estreante nestas andanças, com os músculos habituados a uma vida sedentária lá se arrastou estoicamente até ao final. Hoje recordam os terríveis dias seguintes. A “ressaca” foi de “caixão à cova”. A cama era o melhor sítio do mundo, não por quaisquer motivos inconfessáveis de luxúria, mas porque as pernas se recusavam a obedecer ao cérebro. As articulações doridas, os músculos gelatinosos, as passadas vacilantes como se umas litradas de tintol alentejano potenciadas por uns valentes copázios de medronho de Sta Margarida-Alte, terra onde nasceram, foram a companhia dos dias seguintes. Foram quatro ou cinco dias a andar de pernas abertas como se algum brutal inchaço os impedisse de as fechar e caminhar como qualquer ser humano direito e escorreito.
Já estou a imaginar o raciocínio de quem me lê neste momento: “O casal Martins perante tal flagelação nunca mais colocou os seus martirizados pezinhos nas marchas não fosse a dose ser repetida”.
Pois estais “vocemessês” todos enganados. No Domingo seguinte (aqui fica bem voltarmos à frase “antes quebrar que torcer”) lá estavam novamente, disfarçando as mazelas ainda não totalmente debeladas, marchando garbosamente, vencendo facilmente os agora só 9 km da marcha desse Domingo, esta sim marcada com todos “os matadores”.
O casal Martins continua a brindar-nos com a sua presença. São dos mais antigos marchantes.
A Lúcia e o Ludgero constituem o casal Martins. Permitem-me o privilégio de lhes chamar amigos. As marchas deram-me esta riqueza de conhecer, entre muitas outras, duas pessoas extraordinárias, generosas, de uma simpatia transbordante. Fazem parte daquele nosso grupo que prolonga o prazer da marcha ao longo de todo o Domingo, almoçando connosco, visitando locais de interesse, convivendo, acumulando energias que lhes permitem enfrentar a semana mais revigorados, mas sempre sonhando com o Domingo seguinte onde, novamente, o reencontro é obrigatório.
(O Ludgero atravessa, neste momento, uma fase difícil da sua vida. Um miserável cancro obriga-o a uma operação no IPO e tratamentos de radioterapia algo dolorosos. A recordação deste conto publicado no extinto jornal O Algarve, é a nossa homenagem ao casal, com os votos muito sinceros que, à semelhança da primeira marcha onde demasiados quilómetros foram percorridos, esta marcha seja ultrapassada com sucesso e no futuro muito próximo outras marchas nos juntarão).

domingo, 12 de abril de 2020

OPERAÇÃO PLÁSTICA

Uma mulher decide fazer uma operação de estética aos 50 anos. A operação custou-lhe cerca de €10.000 mas ela ficou muito satisfeita com o resultado. Ao voltar a casa, pára num quiosque para comprar uma revista. Então, não se contendo e pergunta ao empregado:
 - “Espero que não se importe que lhe pergunte: quantos anos me dá?”
- “Cerca de 32” - respondeu o homem.
- “Engana-se, tenho exactamente 50” - disse sorrindo.
 Pouco tempo depois, entra num  McDonald’s e faz a mesma pergunta à empregada que a atendia. A rapariga responde:
 - “Talvez uns 29”.
Com um grande sorriso ela responde:
- “Nada disso, tenho 50”.
Entra num café para beber uma bica e, uma vez mais, faz a mesma pergunta. O empregado responde:
- “Talvez uns 30”.
Orgulhosamente, responde:
 - “Tenho 50, mas obrigado pela simpatia”.
 Enquanto aguardava o autocarro para voltar a casa, ela faz a mesma pergunta a um idoso a seu lado. Mas ele responde:
 - “Minha senhora, tenho 78 anos e a minha vista já não é o que era. No entanto, quando era mais novo raramente me enganava sobre a idade de uma mulher. Não quero parecer abusador, mas se me deixar apalpar os seios posso dizer com exactidão a sua idade”.
A mulher ficou atónita, mas cheia de curiosidade. Por fim, balbuciou:
- “Vamos a isso”
Então ele deslizou as mãos por debaixo da blusa da “jovem” e começou a apalpar cada seio, beliscando os mamilos. Após alguns minutos de desconforto ela diz:
- “Ok, já chega... que idade tenho?”
Ele tira as mãos, abotoa-lhe a blusa e responde:
- “A senhora tem 50 anos”
Espantada e até um pouco atordoada ela diz-lhe:
 - “Incrível, como conseguiu?”
O velhote com ar malandro responde:
- “Promete que não se zanga?”
- “Prometo que não” - disse ela.
- “Eu estava atrás da senhora na fila do McDonald’s...”

quarta-feira, 8 de abril de 2020

UMA HISTÓRIA VERÍDICA NA SERRA DE SILVES


Uma história real na Serra de Silves

Silves é um concelho com história e com locais de visita de extraordinário interesse. Há vestígios da presença humana desde a Pré-História e da ocupação romana e muçulmana.
Foi em 1189 que se pensa ter sido efectuada a conquista cristã protagonizada pelo nosso rei D. Sancho I. Mas parece ter sido D. Afonso III, depois de umas batalhas à moda daqueles tempos (ora agora conquistas tu, ora agora conquisto eu) que definitivamente nos instalámos no concelho de Silves e também em todo o Algarve, banindo definitivamente os muçulmanos. Ainda hoje os árabes reivindicam estas terras como deles e, patriotismos à parte, até é um assunto que merece discussão aprofundada.
Mas a razão desta pseudo-historieta não é contar a história do concelho de Silves (há pessoas mais abalizadas para o fazer), mas sim a história de outras “guerras” com outros protagonistas.
Muitos ainda se lembrarão de uma belíssima marcha realizada em plena serra a norte da barragem do Arade. Os marchantes calcorreavam aqueles montes, vencendo os obstáculos naturais com maior ou menor esforço, mas sempre com a habitual alegria, empurrados pela bucólica paisagem, pelo cheiro das estevas, pelo ar puro e pelo chilrear da passarada (um pouco de poesia não fica nada mal nestas coisas). E até a imagem típica do apicultor ao lado do nosso trajecto, retirando o mel das suas colmeias, completava um quadro motivador à superação do cansaço. 
As abelhas esvoaçavam ao nosso redor, parecendo que nos saudavam pela nossa chegada, como que pedindo ajuda contra o “ladrão” que lhes roubava o mel .
Um dos marchantes, que seguia na frente da coluna, incomodado com o zumbido resolveu agitar os braços para afastar as abelhas.
É sabido que, por altura da colheita do mel, as abelhas andam “assim a modos que nervosas” porque estão a ver o seu laborioso trabalho de colheita em mil flores, para posterior transformação industrial, a ser roubado sem qualquer pagamento e sem terem recebido, sequer, o ordenado mínimo. 
Também é conhecida a solidariedade das abelhas, a sua unidade na defesa da colmeia e das colegas e, perante a desfaçatez do ataque inopinado do marchante, o enxame, já “picado” pelo apicultor, à semelhança do nosso antepassado Afonso III e, utilizando a conhecida táctica militar “todos ao molhe”, resolve atacar a coluna de 500 marchantes.
A derrota foi total e aviltante. Dos marchantes, claro.
A retirada foi mais espectacular que a fuga dos castelhanos à frente de D. Nuno Álvares Pereira na batalha de Aljubarrota.
A infantaria corria, desordenadamente, debaixo dos voos picados da aviação inimiga. Os Kamikases ferroavam em tudo o que mexia apontando às cabeças, aos braços e às pernas. 
Ainda recordo a imagem do meu amigo Jesuíno a despir a camisola para que eu lhe sacudisse uma “apis mellifera” atrevida que lhe tinha (salvo seja e com todo o respeito e simpatia) saltado para as costas enquanto o exército derrotado ao primeiro ataque fugia desordenadamente, tropeçando, caindo, atropelando.
Como diria Camões no canto IX dos Lusíadas: “melhor é experimentá-lo que julgá-lo, mas julgue-o quem não pode experimentá-lo” (referia-se a outros carnavais, mas uma citação fica sempre bem).
No final da batalha só restava contar as baixas, lamber as feridas, inventariar os destroços, esconder o orgulho ferido, mal disfarçado perante os joelhos ensanguentados, as mãos esfoladas, as camisolas rasgadas, os óculos partidos e, claro, os milhares de babas nas preciosas cútis de quase todos os invasores. 
O que os muçulmanos não conseguiram, conseguiu um vulgar enxame de abelhas: a reconquista, não de todo o Algarve, mas de uma nesga de território no concelho de Silves.
Ainda hoje tenho receio de ali passar, não vá alguma abelha vitoriosa reconhecer um inimigo do passado e fazer-me prisioneiro.
(Jorge Lopes, no extinto jornal "O Algarve")

sábado, 4 de abril de 2020

EXTRAS

Um agricultor vai a um stand comprar uma Toyota Hilux e fica indignado pelo acréscimo enorme do preço devido às opções que escolhe.
Pouco tempo depois o director da concessionária compra uma vaca ao agricultor para colocar numa pequena quinta que possui no Alentejo.
Transcrevemos a seguir a factura enviada pelo agricultor ao concessionário do stand:
1 vaca……………………………………………………….. 2.000 euros
2 cores (preto e branco)…………………………..   500
Revestimento total em couro…………………..1.000
Reservatório de leite………………………………..   500
Para-choque (chifres)………………………………..   200
4 tetas (50 cada)……………………………………….   200
Espanta moscas semi-automático (rabo)…   300
Dispositivo eliminador de esterco…………….   500
Sistema de tracção às 4 patas………………….2.000
Versão todo o terreno……………………………....1.000

Total………………………………………….  8.200

terça-feira, 31 de março de 2020

CONCURSO TSHIRT MOLHADA

CONCURSO TSHIRT MOLHADA
João (nome fictício a pedido do próprio) é um marchante entusiasta. Nada o impede de comparecer todos os Domingos, faça chuva ou faça sol, nos nossos encontros dominicais.
O João faz-me recordar o meu amigo Paulo que reside numa conhecida aldeia algarvia, ao pé da igreja e na rua que acede ao cemitério. Sempre que um funeral lhe passa à porta o bom do Paulo sai imediatamente de casa e acompanha o féretro, sem mesmo cuidar de saber a identidade do falecido. Um amigo comum costuma dizer que quando não virmos o Paulo a acompanhar o funeral é porque ele vai dentro do caixão. Apesar de mal comparado e da morbidez desta crónica (espero ser perdoado) o João é tal e qual o Paulo. Quando não virmos o João numa marcha é porque essa marcha não existe.
Ora na marcha do dia 29 de Novembro do passado ano, em Espiche, todos estão lembrados que, logo no início, um dilúvio desabou sobre os corajosos marchantes. Muitos desistiram de enfrentar os elementos, abrigando-se nos cafés e telheiros mais próximos, mas o João com o seu tradicional entusiasmo, insensível à chuva, acompanhado pelos habituais e indefectíveis “maduros”, não prescinde do seu dominical exercício físico e lá vai ele à frente do pequeno pelotão de corajosos.
Naquele Domingo o João vestia uma camisola de material sintético, que depois de absorver tanta água se tornou mais rija e abrasiva. O vento e os movimentos da marcha contribuíam para que a camisola roçasse no peito e friccionasse, ferindo, os mamilos endurecidos pelo frio. 
No final da marcha, ainda a quente, o João queixava-se que lhe doíam as mamas. Aproveitámos a deixa e insinuámos, malevolamente, que talvez por qualquer fenómeno inexplicável, ele estaria a mudar de sexo, sendo o primeiro sintoma o crescimento anormal dos seios. O João, homem bem-humorado, que aceita todas as brincadeiras, porque sabe da camaradagem e amizade com que são proferidas, mandava-nos, simpaticamente... “à fava”.
Na marcha do Domingo seguinte, em Albufeira, senti curiosidade em saber do estado de saúde dos mamilos do João e do tratamento que ele lhes tinha dado. O malandro, rindo desalmadamente, conta-me que ainda mantinha, orgulhosamente, a sua masculinidade, que a mudança de sexo não se tinha processado e que os ferimentos nos seios tinham contribuído para um final feliz. Deixo-vos as palavras proferidas pelo João, acompanhadas de saudáveis e ruidosas gargalhadas: “A minha mulher levou a semana toda a besuntar-me os mamilos com vaselina. Foi uma semana fantástica de consequências inconfessáveis. Sabes que vou usar sempre, a partir de agora, a mesma camisola e, se não chover, vou despejar sempre umas litradas de água no meu peito, até que a minha mulher não desconfie da marosca”.
É este o espírito das marchas. Alegria, brincadeira, amizade e saudável exercício físico. Bastam umas sapatilhas cómodas, uns calções ou fato de treino e uma camisola, para usufruir dos benefícios da marcha e da alegria com que as mesmas decorrem.
(Jorge Lopes - Jornal "O Algarve")

domingo, 29 de março de 2020

GENTE FINA É OUTRA COISA


- Hoje fui a um restaurante gourmet.
- Ai sim? E então?
- O meu almoço foi camarão envolvido em molho béchamel, com pequenos apontamentos de salsa frisada australiana, em cama de massa fina banhada em pão ralado crocante e confitada em óleo vegetal ...
- O quê? Mas afinal que raio é que tu comeste, pá?

- Olha, comi um rissol.

sábado, 28 de março de 2020

A UVA MIJONA OU UMA AVENTURA NA SERRA ALGARVIA

A UVA MIJONA

A uva-mijona é uma variedade de uva que apresenta bagos de polpa aguada e de sabor desagradável. Tal expressão também significa preço baixo, saldo. Lembrei-me deste título não porque ele se adeque à escrita que se segue, mas sim como fraca mensagem subliminar, que irá influenciar comportamentos futuros semelhantes à da heroína desta história, que chamarei Francisca (nome fictício). 
Normalmente os organizadores das marchas têm o cuidado e o IDP (actual IPDJ) também aconselha, que junto aos locais de partida existam instalações sanitárias. Os marchantes deslocam-se das mais longínquas terras e o tempo que levam a chegar ao destino contribui, naturalmente, para um enchimento das respectivas bexigas que serão aliviadas nas tais instalações. E até é engraçado ver as filas enormes para a casa de banho das senhoras e a inexistência de filas para a casa de banho dos homens. É um fenómeno digno de estudo, mas que não cabe, por agora, nesta croniqueta, mas que ajuda a perceber o problema da Francisca mais adiante explicado. 
Ora numa das marchas, já não lembro qual, no interior serrano algarvio, tais instalações não existiam. A nossa Francisca, vinda de terra longínqua, já estava um pouco assim a “modos que apertada” e a ausência de instalações sanitárias não lhe permitiu satisfazer essa necessidade tão básica, tão corriqueira. 
Começa a marcha e a Francisca lá caminhava cada vez mais aflita. O seu andar começava já a assemelhar-se ao andar artificial dos modelos numa passerelle, as pernas cruzando-se, bem unidas, coxas bem apertadas. Vocês conhecem o estilo, já passaram pelo mesmo. A determinada altura a Francisca vê um arbusto ao lado do trilho, olha para trás e não vê vivalma. É agora, pensa ela! E um rio caudaloso brotou, uma torrente interminável deslizava regando os ressequidos terrenos da bela serra algarvia. Um suspiro de satisfação e supremo alívio escapava-se pelos seus lábios semi-abertos.
Mas nestas coisas o que deve acabar mal, acaba mesmo mal, diz a malfadada lei de Murphy. Uns marchantes (homens), retardatários, surgem ao fundo e em passadas largas aproximavam-se da pobre Francisca, semi-escondida pelo modesto arbusto e com o regadio ainda por terminar. Mulher de sãos princípios morais, recatada, de grande pudor, não lhe restava outra alternativa senão puxar rapidamente a lingerie e o fato de treino e continuar a marcha, disfarçadamente, para que os marchantes que se aproximavam não se apercebessem dos preparos em que se encontrava.
Mas, meus caros, lembram-se do que escrevi acima sobre a rega inacabada? Já estão a ver a cena, não estão? A rega completou-se já com a roupa vestida. É que para interromper o caudal de um rio é necessária uma robusta barragem.
No final da marcha as amigas, desconhecedoras dos factos narrados, interrogavam-na ingenuamente: “Oh mulher estás toda molhada. Que te aconteceu?”. E a Francisca, vivaça, espertalhona, espontânea, evidenciando um ligeiro rubor na face, replicava: “Hoje esforcei-me demasiado. Estou toda suadinha”.
Jorge Lopes
(Publicado em 2009 em "O Algarve")

sexta-feira, 27 de março de 2020

NÓS OS HOMENS



-Os homens são como as batatas.
Os novos só descascados e os velhos só a murro. 
-Os homens são como as bananas.
Quanto mais envelhecem mais moles ficam.

quinta-feira, 26 de março de 2020

A COVID-19 E UM EXEMPLO DE SACRIFÍCIO E CORAGEM

COVID-19 também nos inferniza a vida, mas façamos como o Pacheco e olhemos para ela como um inimigo a quem daremos luta e que iremos vencer certamente. FIQUEM EM CASA. 

UM EXEMPLO DE CORAGEM 
Por vezes encaramos os nossos pequenos problemas, as nossas dores, as nossas mazelas, como se o mundo girasse à nossa volta. Exigimos compreensão e solidariedade projectando nos outros as nossas dificuldades, como se deles fossem.
Há pessoas, contudo, que pela sua coragem, resistência à adversidade e amor à vida devem servir-nos de exemplo, ajudando-nos a reduzir à sua verdadeira dimensão, as pequenas preocupações do nosso dia a dia.
Vem este arrazoado pseudo-moralista, que peço me desculpem, a propósito de uma doença que assusta todos mas que alguns enfrentam com coragem e determinação: o cancro.
Dirão vocês agora: “Que raio, vem este tipo, no âmbito de uma página dedicada à alegria que emana das marchas, falar-nos de coisas que, apesar de reais, nos entristecem”. Não me levem a mal, mas por favor, leiam até ao fim e perceberão o porquê deste tema.
Sabemos de casos de cancro de pessoas famosas, que chegaram ao nosso conhecimento através dos meios de comunicação social, como exemplos de força psicológica e coragem no combate à doença que os atingiu. Um dos mais conhecidos é o do extraordinário ciclista Lance Armstrong que, no início de uma promissora carreira no ciclismo, descobriu que tinha um cancro num testículo, um tumor num pulmão e outro no cérebro. Lance, ao ver o mundo a desabar-lhe em cima, não se deixa abater e numa entrevista diz: “Enganaste-te na pessoa ao escolheres um corpo para viver, cometeste um erro porque escolheste o meu”, demonstrando que, na batalha contra aquele inimigo, não havia lugar a tréguas. E Lance venceu a batalha. Depois da cura venceu por 7 vezes a volta à França, transformando-se no maior ciclista de todos os tempos. 
No nosso país todos sabemos a luta que, actualmente, trava o actor António Feio que resolveu tornar pública a sua luta contra um cancro no pâncreas. Com firmeza e uma extraordinária serenidade, resolveu enfrentá-lo na esperança de o vencer. Em entrevista televisiva recente, revelou-nos uma calma, um apego à vida, uma determinação que comove e nos leva a dar-lhe todo o nosso apoio moral e a desejar-lhe que vença, para que continuemos a maravilhar-nos com a sua presença na TV e nos palcos deste país.
Mas exemplos de grande coragem e força psicológica, que não chegam aos jornais por se tratar de gente anónima, há por aí muitos. No nosso pelotão de marchantes há, pelo menos, um caso que merece ser divulgado. Revelando uma superioridade moral, que me esmagou, o Pacheco autorizou-me a revelar o seu caso pessoal que equiparo ao do ciclista Lance Armstrong. Um ligeiro sinal nas costas, a que não ligou de início, evoluiu para um melanoma que lhe transformou a vida. Tudo ruiu à sua volta. Abdica da sua, até aquela altura, brilhante carreira profissional e dedica-se a um combate cujas probabilidades de sair vencedor eram diminutas. Não sei qual a frase que o Pacheco disse no início da batalha, mas pelo que hoje conheço dele, quase aposto que seria algo semelhante ao que Lance Armstrong utilizou: ”Escolheste mal o corpo onde te alojaste, agora vais arrepender-te”.
Não vou contar, em pormenor, a dolorosa odisseia, de anos, que o Pacheco enfrentou. Mas dir-vos-ei que foram 5 operações ao melanoma inicial e a metástases que apareceram posteriormente. A 5ª operação foi adiada, pelas mais variadas razões, por 8 vezes. O Pacheco, cansado de esperar, interroga o médico sobre as razões de tais adiamentos. “É um local de difícil acesso, percentagem de sucesso diminuta, receio que corra mal, etc, etc” – diz-lhe o médico. E o Pacheco responde-lhe, encorajando-o: “Não tenha problema doutor, tudo vai correr bem”. O Pacheco cita-me este diálogo com simplicidade, com naturalidade, como se estivesse a pedir uma bica ao balcão de um café. Foi como se me tivesse atingido com um murro no estômago. Ele nem notou a comoção que me provocou. Aquela simples frase continha tudo, uma forma optimista de encarar a adversidade, o apego à vida, a força de um extraordinário carácter, a vontade de viver e uma calma que superava a do próprio médico. Aquela frase era um hino à vida, uma lição de coragem e um exemplo para todos nós.
Passados 18 anos desde a primeira operação, evidenciando uma saúde de ferro, marchante assíduo, enaltecendo sempre os benefícios que a prática da marcha lhe trouxe no combate à doença que o atingiu, o Pacheco, modestamente, como se o mérito não fosse dele, costuma dizer: “Lá em cima alguém estabeleceu uma moratória à minha vida”.
NOTA: Esta crónica foi escrita (em 2009) antes da morte do actor António Feio e da descoberta do doping de Lance Armstrong. Os exemplos dados não invalidam a finalidade com que foram citados, pelo que resolvemos manter a versão inicial. Falta acrescentar que o meu amigo Pacheco ainda nos dá o prazer de estar vivo e de boa saúde. Fica aqui um abraço bem forte.

quarta-feira, 25 de março de 2020

MOMENTO DE POESIA

Todos desejaríamos ir para onde quiséssemos, mas somos responsáveis e ficamos por aqui, em casa. Um dia poderemos ir para onde quisermos.
Um poema, de José Régio, falecido em 1969, também declamado, magistralmente, por João Villaret, que pode ser ouvido AQUI.

Cântico negro
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(José Régio)

terça-feira, 24 de março de 2020

A JULIANA, A DOENÇA DE PARKINSON O COVID19 A INTERRUPÇÃO FORÇADA DAS CORRIDAS

Mais uma crónica antiga do extinto Jornal O Algarve em 2009. Substituindo Parkinson por Covid-19, quase que é actual. O programa de marchas está suspenso mas um dia irá recomeçar e ficaremos mais fortes outra vez contra Covid-19 e Parkinson. A Juliana ainda por cá anda, a doença retardou e finalmente a minha amiga Juliana irá enfrentar um tratamento mais recente e radical que consiste na implantação de um estimulador no cérebro que pode reverter a doença. Estamos a torcer por si Juliana (nome fictício).
JULIANA
Juliana marchava como se não houvesse amanhã. O som das passadas firmes no chão terroso, era insuficiente no abafar dos pensamentos que lhe martelavam o cérebro, tornando os ruídos à sua volta nebulosos, ininteligíveis e as vozes dos marchantes, a seu lado, longínquas. 
As notícias que recebera não tinham, ainda, sido totalmente digeridas. Mas não faltara à marcha aprazada para este domingo. Marchar era para ela a purificação das preocupações do dia a dia. Preocupações que, até agora, sobrevalorizara, mas o diagnóstico médico recente encarregara-se de as tornar obsoletas, diminutas, ridículas.
O seu sistema nervoso central avisara, antecipadamente, os seus músculos do que aí vinha. Pequenos tremores musculares fizeram-na consultar um médico. E o diagnóstico atingira-a como um martelo pilão. A prostração, o desânimo, a inacção, constituíram a primeira reacção à notícia. Porquê ela? Porquê agora quando atingia a plenitude, uma vida de duro trabalho que lhe permitiria o gozo merecido nos anos que lhe faltam viver. Seria hoje o primeiro dia do resto da sua curta vida?
O instinto de sobrevivência, a força interior desconhecida que existe em todos nós camuflada bem lá no fundo, o 2º fôlego, fê-la pensar e agarrar-se como nunca à vida. Os casos conhecidos dos quais o de João Paulo II é o exemplo mais destacado, fizeram-na meditar. E foi à luta. Uma luta desigual, David contra Golias, coragem contra o desânimo, Juliana contra Parkinson. 
E tal como “as armas de David eram da parte do seu Deus e isso dava-lhe confiança da vitória. Apressando-se, David pegou numa pedra a atirou com a funda e ela penetrou a testa de Golias e David apressou-se, pegou na espada de Golias e entregou-lhe a morte, definitivamente, cortando sua cabeça” (Bíblia, Livro de Samuel), assim Juliana, frágil, tímida, receosa, mas de uma coragem indómita, irá derrubar o velhaco Parkinson e, o exército de marchantes, tal como o exército de Israel, comandado por David, contra os Filisteus, exultará com a vitória do bem contra o mal, da inocência contra a maldade, da saúde contra a doença.
Força Juliana o teu exército está contigo. 
Nota: A doença de Parkinson é uma doença incurável e é tratada combatendo os sintomas, retardando, assim, a sua evolução. Entre os tratamentos indicados, e cuja menção não é objectivo desta crónica, está a actividade física. Ela contribui para amenizar os sintomas da doença e prolongar o bem-estar. A Juliana (pessoa real, nome fictício) complementa os tratamentos farmacológicos prescritos pelo médico com a actividade física onde inclui, obrigatoriamente, as marchas do nosso Programa Nacional de Marcha/Corrida. 
Jorge Lopes

segunda-feira, 23 de março de 2020

INTERVALO SÓ PARA MULHERES


OS CINCO SEGREDOS PARA UM RELACIONAMENTO PERFEITO

1 - É importante encontrar um homem que tenha dinheiro.
2 - É importante encontrar um homem que faça você rir.
3 - É importante encontrar um homem que seja responsável e não minta.
4 - É importante encontrar um homem que seja bom na cama e goste de fazer amor com você.
5 - É extremamente importante que esses quatro homens NUNCA SE ENCONTREM.

sexta-feira, 20 de março de 2020

A ARCA DE NOÉ, A CHUVA, O ISOLAMENTO EM CASA , AS EXPERIÊNCIAS DIVINAS

Em tempo de contenção, de recolha em casa, em dia de chuva, recordemos, para ajudar a passar o tempo, um conto publicado no extinto jornal O Algarve, baseado em acontecimentos verdadeiros, em Cabanas, debaixo de um verdadeiro dilúvio.

A ARCA DE NOÉ REVISITADA
Em tempos muito remotos o mundo, tal como hoje, era um coito de gentinha criminosa e corrupta. Deus decide, depois de muito matutar e auscultar os seus conselheiros, libertar o mundo dessa camarilha, poupando somente o único homem bom que o habitava, Noé.
Ordena-lhe, em segredo, que construa uma gigantesca Arca, que albergue nela toda a sua família, e um casal de cada espécie animal existente na Terra. 
Deus, então, abre as torneiras do céu e inunda toda a Terra, afogando todo o ser vivo que não teve a sorte de ser seleccionado como passageiro da Arca. Enfim, uma discriminação muito criticada pelos partidos políticos da oposição, sempre no contra, cujos líderes, devido a uma fuga de informação, muito habitual naqueles tempos, tiveram conhecimento, em tempo, do que se preparava e se refugiaram, quais ratazanas, clandestinamente, no esconso porão da Arca. Tal como hoje, os chefes salvam a pele e o povinho é que se trama.
Depois de meses de navegação errática (com tanta chuva o GPS avariou), a Arca encalhou em solo firme. E os sobreviventes deram origem aos povos que hoje conhecemos. A família de Noé reproduziu-se e hoje constituem o limitado nicho de população honesta, pura, sem mácula. São poucos, mas resistentes à luxúria que os cerca. Os outros, os clandestinos da Arca, deram origem à malandragem que pulula por todo o lado. São os actuais corruptos, criminosos e devassos.
Foi uma primeira tentativa falhada e ingénua de Deus, nessa sua intenção de limpar a corrupção que grassava no mundo. 
Recentemente tivemos acesso ao Facebook do Arcanjo Gabriel (pertence ao nosso grupo de amigos) onde se especulava sobre o novo plano de limpeza que está a ser congeminado por Deus: um novo dilúvio. Segundo Gabriel, Deus reuniu com o seu conselho de estado, e há uma fortíssima corrente de opinião a favor do extermínio da actual, corrupta, humanidade. Os únicos conselheiros contra tal desiderato são a Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II, de enorme bondade, muito próximos de Deus, e com muita influência nas suas decisões. No entanto, um grupo da oposição, muito coeso exige uma actuação rápida. Hitler aconselha o uso de gás letal. Nero, antigo imperador romano, propõe que se atei fogo a todo o planeta transformando os seres humanos em feéricas tochas. Sabe-se que encomendou uma harpa através do conhecido “site” www.harpasdodemo.com, e está a compor um salmo, para entoar enquanto o incêndio perdurar. Judas, apesar da sua pouca influência junto de Deus, sugere o extermínio total, mas, sempre materialista, exige a preservação de todas as riquezas existentes.
Perante estas opiniões tão antagónicas, Deus está dividido. Infinitamente bom, não quer desgostar ninguém. E resolve, depois de muito meditar, e de muitas pesquisas na net, reeditar uma segunda versão do dilúvio universal, a aplicar em data a combinar. E resolve, contentando todos, testar os efeitos, na humanidade, de mini dilúvios em zonas previamente seleccionadas.
Uma dessas experiências decorreu na zona de Conceição e Cabanas, no concelho de Tavira, às 10 horas da manhã do dia 8 de Dezembro, e coincidiu com a marcha programada para esse dia, apanhando desprevenidos alguns de nós, heróicos marchantes. 
A experiência divina foi um sucesso estrondoso, e um extraordinário ensaio para o apoteótico dilúvio final. Os relâmpagos, os trovões, sucediam-se para gáudio de Nero, o cheiro a enxofre contentava Hitler. A água jorrava em catadupa. As ruas de Cabanas transformadas em caudaloso rio, desapareceram. Os marchantes, indómitos, enfrentavam corajosamente a formidável experiência de Deus. A água subia pelos artelhos, pela canela, até aos joelhos, enquanto o fogo crepitava sobre as suas cabeças. A harpa de Nero ressoava nos seus fustigados ouvidos. O João Carmo, o Zé Maria, o Tinoco, o Pacheco, quais ciclopes, arrostavam com os ventos, as águas, o fogo.
E aos 30 minutos Deus descansou. A experiência tinha sido um sucesso. Hitler e Nero salivavam na expectativa do dia do juízo final, que anseiam cada vez mais perto. Madre Teresa e João Paulo, aliviados, agradeciam a contenção divina. 
E nós, marchantes, no âmago da acção, protagonistas da experiência, ficámos com uma história para contar. E logo ali, os sobreviventes do apocalipse, constituíram-se em grupo de pressão e de apoio massivo em futuras eleições, ao PSH (Partido da Salvação da Humanidade) da Teresa e João Paulo, contra o PDH (Partido da Destruição da Humanidade) de Hitler e Nero. Juntem-se a nós e votemos em massa na preservação da espécie humana e manifestemo-nos domingo a domingo, nas nossas marchas, contra este tipo de experiências divinas. Marchantes unidos, jamais serão vencidos!
Jorge Lopes

domingo, 15 de março de 2020

CORREDORES E TOLSTOI

Nestes tempos de contenção em provas desportivas, que não de treinos, que devem continuar a ser feitos, talvez fosse interessante recordar um conto do enorme Leão, ou Liev Tolstoi, escritor russo, nascido em 1828, autor da Guerra e Paz e Anna Karenina, entre outras obras, com o original título "DE QUANTA TERRA PRECISA UM HOMEM".
Resumindo: o camponês Pakóm sonhava com grandes extensões de terra, numa paranóia que o levava a afirmar que, com muitas terras, nem o diabo lhe metia medo. O chefe de uma aldeia Bashquir, ouvindo tal desejo, oferece a Pakóm a possibilidade de adquirir terra, propondo-lhe que venderia, por somente 1.000 rublos, toda a terra que conseguisse percorrer durante um dia, com a condição de regressar ao ponto de partida no mesmo dia, sob pena de perder os 1.000 rublos entregues. Pakóm teria de marcar com uma pá os pontos limites do território a percorrer e que seria seu ao final do dia. Decidiu partir de madrugada e a sofreguidão levou-o a percorrer uma distância que quase não permitia um regresso ao local de partida no tempo combinado, que teve de ser feito em corrida contínua, num esforço para o qual não estava preparado. Mas Pakóm chegou em cima do tempo estabelecido, exausto, de sangue a sair pela boca, coração a bater desalmadamente. Pakóm cai no cão e não mais se levanta. 
O seu criado verificando a morte, abre com a pá uma cova com as medidas de Pakóm e enterra-o sob sete palmos de terra. Pakóm não precisava de mais.
Esta súmula de um conto de Tolstoi faz-nos lembrar alguns dos nossos corredores impreparados para as distâncias que se propõem percorrer. A sofreguidão dos tempos, das classificações, dos pódios, leva-os à exaustão, à sensação de enorme cansaço. Um deles confessou-me, um dia, que o esforço lhe colocou as pulsações de tal forma altas, que teve de parar a meio de uma íngreme subida e que sentiu uma sensação de desmaio, que o obrigou a sentar-se no chão a aguardar pela regularização do batimento cardíaco. 
Parafraseando Tolstoi e a sofreguidão de Pakóm, corram com inteligência, levem o tempo que os vossos corpos permitem. Não precisam de mais.
Neste momento, perante o domínio sobre a raça humana por um vírus que só um microscópio electrónico consegue visualizar, os amadores da corrida, precisam de sentir os seus corpos, ouvir os seus corações, esquecerem-se dos pódios, das classificações, das rivalidades. Precisam de correr, precisam de treinar, precisam de se divertir, precisam de saúde, não precisam de mais nada.

quinta-feira, 12 de março de 2020

O VÍRUS, O CALENDÁRIO REGIONAL DO IPDJ E OUTROS

Vírus (do latim virus, "veneno" ou "toxina") são pequenos agentes infecciosos, a maioria com 20-300 microns de diâmetro, apesar de existirem vírus gigantes de (0.6–1.5 µm), que apresentam genoma constituído de uma ou várias moléculas de ácido nucleico (DNA ou RNA), as quais possuem a forma de fita simples ou dupla.  
As partículas virais são estruturas extremamente pequenas, submicroscópicas. A maioria dos vírus apresentam tamanhos diminutos, que estão além dos limites de resolução dos microscópicos ópticos, sendo comum para a sua visualização o uso de microscópios electronicos. Vírus são estruturas simples, se comparados a células, e não são considerados organismos pois não possuem organelas ou ribossomos, e não apresentam todo o potencial bioquímico (enzimas) necessário à produção de sua própria energia metabólica. Eles são considerados parasitas intracelulares obrigatórios (característica que os impede de serem considerados seres vivos), pois dependem de células para se multiplicarem. Além disso, diferentemente dos organismos vivos, os vírus são incapazes de crescer em tamanho e de se dividir. A partir das células hospedeiras, os vírus obtêm: aminoácidos e nucleotídeos; maquinaria de síntese de proteínas (ribossomos) e energia metabólica.
(Retirado da Wikipedia)
Todo este arrazoado, retirado da Net, serve para se perceber o quanto a arrogância da raça humana, a sobranceria e superioridade que ela evidencia, se pode vergar ao ser descrito atrás, um ser parasita, só visível por um sofisticado microscópio electrónico.
Perante o poderio de um vírus tudo é afectado, a economia mundial, a saúde publica, a liberdade de deslocação, a fuga à socialização. Um vírus é incapaz de crescer em tamanho, mas é capaz de nos matar ou de nos reduzir a um estado de terror. Perante ele todos os poderosos do mundo se vergam, todos se fecham dentro das suas miseráveis quintinhas, todos são subservientes. O ser pequeníssimo reduz-nos à nossa pequenez, à nossa insignificância.
É este minorca que faz com que tudo seja cancelado, desde campeonatos mundiais, espectáculos culturais e desportivos, veículos de ensino e de lazer. 
É este parasita, que, ao nosso nível, obrigou o IPDJ, responsavelmente, a cancelar o seu Programa Nacional de Marcha/Corrida, na sua vertente algarvia, até ao final do mês. 
Foi este parasita que, em sequência e responsavelmente, os grupos informais de marcha/corrida cancelaram os seus eventos até que o miserável resolva abrandar a sua virulência.
Não o vemos, mas alguns vão senti-lo e a nossa obrigação é preservarmo-nos para não servirmos de auto estrada á viagem entre nós e os nossos amigos e companheiros de corridas e de vida.
Ficamos à espera do reencontro livres do sacana que nos inferniza a vida.
Votos de saúde e felicidade a todos.