O Juvenal estava
desempregado há meses. Com a resistência que só os portugueses têm, o Juvenal
foi tentar mais um emprego em mais uma entrevista. Ao chegar ao escritório, o
entrevistador perguntou-lhe:
-Qual foi o seu último salário?
-Salário mínimo,
respondeu Juvenal.
-Pois se o
senhor for contratado ganhará 10 mil euros por mês.
-Jura?
-Que carro o
senhor tem?
-Na verdade,
agora eu só tenho um carrinho para vender pipocas na rua e um carrinho de mão.
-Pois se o
senhor trabalhar connosco ganhará um Audi para você e uma BMW para sua esposa. Tudo
custo zero.
-Jura?
-O senhor viaja
muito para o exterior?
-O mais longe que
fui foi ao Alentejo, visitar uns parentes.
-Pois se o
senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris,
Roma, Mónaco, Nova Iorque, etc.
-Jura?
-E lhe digo
mais... O emprego é quase seu. Só não confirmo agora porque tenho que falar com
o meu gerente. Mas é praticamente garantido. Se até amanhã (sexta-feira) à
meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso cancelando, pode vir
trabalhar na segunda-feira.
Juvenal saiu do
escritório radiante. Agora era só esperar até à meia-noite de sexta-feira e
rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama. Sexta-feira mais feliz
não poderia haver. E Juvenal reuniu a família e contou as boas novas. Convocou
o bairro todo para uma churrascada comemorativa com muita música. Sexta de tarde
já tinha um barril de cerveja aberto. As 9 horas da noite a festa fervia. A
banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta nas gargantas. Dez horas, e
a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero. A vizinha gostosa,
interesseira, já se encostava para perto do Juvenal. E a banda tocava. E a
cerveja gelada rolava. O povo dançava. Onze horas, Juvenal já era o rei do
bairro. Estava a gastar milhares para o bairro encher a pança. Tudo por conta
do primeiro salário. E a mulher resignada, meio aflita, meio alegre, meio
aparvalhada, meio assustada. Onze horas e cinquenta e cinco minutos, acelerando
na esquina, buzinando como um louco uma rapaz numa motorizada vermelha, chegava.
Era do Correio. A festa parou. A banda silenciou-se. A multidão engasgou. Um bêbado
arrotou. Um cachorro uivou. Meu Deus, e agora? Quem pagaria a conta da festa?
-Coitado do
Juvenal, era a frase mais ouvida. Lançaram água nas brasas do churrasco. A
cerveja aqueceu. A mulher do Juvenal desmaiou. A motorizada parou.
-Senhor Juvenal Batista Romano?
-Si, si, sim,
so, so, sou eu...
A multidão não
resistiu: OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!
-Telegrama para
o senhor.
Juvenal não acreditava... Pegou no telegrama,
com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos. Silêncio total.
Respirou fundo e abriu o telegrama. Uma lágrima rolou, molhando o telegrama.
Olhou de novo para o povo e a consternação era geral. Tirou o telegrama do
envelope, abriu e começou a ler. O povo em silêncio aguardava a notícia e perguntava.
-E agora? Quem
vai pagar esta festa toda?
Juvenal
recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o
encarava... Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e
começou a gritar eufórico:
-A mãe morreeeeuuu! A mãe morreeeeuuu!
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