Por
vezes interrogamo-nos sobre os motivos que levam as pessoas a realizar feitos
que, à primeira vista, nos parecem absolutamente inúteis. Em tempos, neste blog, a propósito de outro acontecimento, contámos a história do alpinista George Mallory. Repetimo-la hoje por julgarmos que se adapta perfeitamente ao que pretendemos relatar. Um dia perguntaram a George Mallory,
alpinista famoso do 1º quartel do Sec. XX, porque razão desejava tanto chegar
ao topo da montanha mais alta do planeta, o Everest. Mallory respondeu
simplesmente: “Porque ele está lá”, frase posteriormente repetida milhares de
vezes por outros alpinistas que assim tentam justificar os seus actos de
coragem dedicando-se a actividades que, para o comum dos mortais, parecem insensatas.
George Mallory morreu em 1924, na sua tentativa de escalada do Everest, sendo o
seu corpo, congelado, somente encontrado em 1999. Ainda hoje se desconhece se
ele sucumbiu na subida ou na descida. A primeira conquista do Everest,
devidamente documentada, só se realizou em Maio de 1953, pelo extraordinário
Sir Edmund Hillary e pelo seu acompanhante o Sherpa nepalês Tensing Norgay.
As
grandes performances atléticas têm todas um denominador comum: “porque existem”
ou porque “estão lá”.
O
desejo de superação, de conseguir o quase inatingível, levam alguns a
abalançar-se em tarefas que parecem inúteis aos olhos dos acomodados velhos do Restelo. A
humanidade tem progredido pela mão desses visionários, que não se preocupando
com o seu bem estar momentâneo resolvem, com sacrifício, muito suor e, por
vezes, sangue, atirar-se para a frente, não curando saber das dificuldades próximas mas sim da meta longínqua.
Salvo
as devidas proporções atléticas, que não as mentais, meditemos no homem que resolve percorrer a pé, de mochila às costas, a distância que
medeia entre Fátima e Santiago de Compostela, em 16 dias, 470 km solitários,
loucos, sem qualquer finalidade imediata que não seja a superação física, a fé,
ou inscrever o seu nome no restrito número dos conquistadores daquela distância,
ou então, simplesmente, porque aquela distância existe e que Santiago de
Compostela “está lá”.
Foi
esse o empreendimento que o extraordinário Deni Vargues, atleta de eleição,
simpatia para dar e vender, homem de quem é muito fácil gostar, realizou. Deni
Vargues, o homem da corneta, já em Outubro tinha, na companhia de outro
andarilho, o Marco Soares Pereira, vencido a distância entre Quarteira e
Fátima. Agora, a solo, venceu a distância entre Fátima e Santiago de
Compostela.
Estivemos,
em espírito, ao seu lado, todos os dias. Acompanhámos o relato diário, via Facebook e demos por nós a torcer por ele, a desejar
que nada de mal lhe acontecesse, a ansiar o término vitorioso da enorme
jornada. E, ontem, respirámos fundo quando soubemos de mais esta conquista. Foi um esforço inútil e insensato? Não, não foi, porque o
exemplo deste homem constitui um apelo ao exercício físico como forma de melhoria da saúde e um enorme grito de alerta contra o sedentarismo. PARABÉNS
grande DENI.
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