segunda-feira, 14 de novembro de 2011

AOS SENHORES AUTARCAS

As marchas, no Algarve, têm a sua origem na década de 80. Um grupo de participantes reunia-se, quinzenalmente, para a prática da marcha, como actividade física, com enormes vantagens para a saúde. Um dos elementos, que participava nessas caminhadas, a Prof. Amélia Elias, desempenhava funções na antiga Direcção Geral dos Desportos, actual IDP, e contribuiu para que, em 1988, esse organismo chamasse a si a responsabilidade da criação de um calendário regional de marchas com periodicidade semanal, envolvendo Autarquias, Clubes, Associações, Casas do Povo e organizações de Solidariedade Social.
O apoio das autarquias do Algarve, através da disponibilização de transportes, foi fundamental na consolidação desse programa, tornando-se um enorme êxito, especialmente junto da população acima dos 50 anos. O sucesso alcançado levou a que a todos os concelhos do Algarve (16) fosse atribuído, pelo menos, a organização de uma marcha. E as candidaturas superaram sempre as datas disponíveis pelo que foi necessário, para contemplar todos, a criação de marchas nocturna.
O número de participantes tem aumentado extraordinariamente nos últimos anos (já houve marchas com mais de 2.000 participantes) e a média anual deve rondar as 800 participações. A presença de um técnico do IDP, a análise semanal de cada marcha feita por observadores convidados, tem permitido uma melhoria significativa nas organizações e, hoje, podemos dizer que não se anda longe da perfeição.
E este sucesso, de que tantos beneficiam, deve-se à extraordinária liderança do IDP e à fantástica colaboração das autarquias do Algarve.
No entanto, no programa deste ano, vinte e três anos de história estão a ser postos em causa. E o que, até agora, era um exemplo para todo o país, um “caso de estudo” noutras Direcções Regionais do IDP (e que deu origem ao Programa Nacional de Marcha e Corrida), está a ser lentamente destruído pela falta de visão de algumas Câmaras Municipais, que resolveram cancelar os transportes que permitiam, aos seus munícipes, a deslocação aos locais das marchas. A crise não justifica tudo. Exige sim uma gestão criteriosa, uma redução inteligente das despesas, o cancelamento dos gastos sumptuários. O apoio a este projecto não deveria ser incluído nos necessários cortes dado o exíguo peso que tem nos orçamentos. A saúde das pessoas, o apoio aos que não têm transporte próprio, deveria ser uma prioridade dos nossos autarcas. Corte-se nos gastos de funcionamento, no desperdício, racionalize-se a organização interna, eliminem-se as empresas municipais inúteis, cancelem-se os excessos da iluminação de Natal, não se queime dinheiro em fogos de artifício, esqueçam-se os artistas pimba, mas mantenham o apoio dominical aos vossos munícipes marchantes tal como apoiam, com disponibilização de transportes, os vossos clubes desportivos, as vossas associações, as vossas escolas. Os vossos marchantes são, à sua maneira e dentro das suas possibilidades físicas, atletas que privilegiam não a competição, não os recordes, não os resultados, mas a sua saúde. E os benefícios que retiram das marchas são incumensuravelmente superiores aos custos de transporte.
Este blogue vai estar muito atento e vai mencionar, semana a semana, as presenças dos vossos autocarros e vai denunciar, na medida do possível, na quadra de festas que se aproxima, os gastos inúteis que porventura sejam praticados.
Entretanto, sabe-se agora, que a Associação Nacional de Municípios, conseguiu junto do governo e no quadro do Orçamento Geral do Estado, a manutenção do vosso limite de endividamento no valor actual de 125% (o governo pretendia reduzir para metade), pelo que já não terão, para 2012, o estrangulamento que julgavam. É mais um dado para meditar no que ficou escrito.

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