Uma visita a Benafim, freguesia do barrocal do concelho de Loulé, é sempre sumamente agradável. As paisagens tipicamente serranas, o outro Algarve, as gentes puras do interior, são factores que contribuem para que estas visitas, que as marchas proporcionam, sejam sempre bem vindas. Observe-se, ao longe, ou visite-se a famosa Rocha da Pena, um afloramento rochoso com 479 m de altitude, habitat de algumas espécies de pequenos mamíferos (saca-rabos, texugos, raposas, ouriços, lebres, coelhos) e de aves que ali nidificam (águia de Bonelli, águia de asa redonda, mocho real, o peneireiro, o milhafre).
Já percorremos toda a Rocha da Pena pelo percurso pedestre demarcado e podemos garantir que é um passeio muito agradável.
Falta acrescentar que esta marcha é organizada pelo Sport Clube de Benafim, pelo Centro Comunitário e pela Junta de Freguesia. Concentração no local habitual, junto à sede do Clube, logo à entrada para quem vem de Loulé. Fiquemos com a lenda, ou talvez não, da história da terra de Aben-Afan, retirada do sítio da Junta de Freguesia:
História ou lenda de Benafim
Ano de Graça de 1240...Aben-Afan, Cônsul do Império Árabe em Xelb (Silves), constrói no coração do Algarve um palácio luxuoso , ninho d´amores passageiros... Apaixona-se então por D.Branca, filha de Afonso III e senhora de Lorvão , cuja imagem formosíssima se materializou perante o nosso Cônsul maravilhado, através das magias sugestivas da fada Alina. Louco de paixão, Aben-Afan resolve raptar a sua formosa cristã, levando-a para o seu palácio encantado escondido nos olivais do Barrocal. Diante dos ramos de murta e de louro - o primeiro, símbolo de amor, o segundo de glória militar - o fogoso Cônsul escolhe a murta...
Isolados do resto do mundo, os dois amantes gozam em plena liberdade, a embriaguez da paixão. Mil promessas, mil beijos! Cavalgadas do nascer ao pôr-do-sol, naquelas colinas ainda virgens, perfumadas pelo alecrim e pelo tomilho, as pedras ainda se recordam daquelas silhuetas irreais montadas em cavalos brancos, percorrendo as várzeas floridas, cristalizando-se numa eterna Primavera... Mas, como todas as paixões, o ramo de murta começa a murchar, depressa chega o tédio e o arrependimento.
Afonso III corre à conquista dos Algarves e, quebrando o encanto, na noite de S.João, Aben-Afan vai defender Silves combatendo valentemente com Mestre Sant´Iago e D.Paio Peres Correia. Aben-Afan acaba por morrer à porta da Azóia...Eis o enredo do poema épico de Almeida Garett, Dona Branca escrito no seu exílio em França, parte no Havre e parte em Paris, entre 1824 e 1825.
Garett faz entrar a história num âmbito literário , mas será que a existência do romântico Aben-Afam é pura ficção?
Em 1906, o Dr. Juiz Francisco Xavier Athaíde Oliveira escreve na sua Monografia do Concelho de Loulé: "Dentro desta Freguesia (Alte) há duas aldeias chamadas Benafim Grande e Benafim Pequeno. Parece que aquela é de origem árabe e nos tempos em que em Silves habitavam os reis Mouros, a casa de campo do Rei Aben-Afan, restos de monumentos têm sido encontrados na sua área e de fácil reconhecimento, seria o seu nome, Aben-Afan, Aben-Afim Benafim..."
Sabemos que grande parte dos nomes das aldeias e vilas do Algarve são de origem árabe, em Benafim existem histórias populares que vêm reforçar a teoria de Dr. Athaide Oliveira, e nas quais ele provavelmente se baseou. Em relação aos "restos de monumentos", nestes últimos anos, ao longo dos passeios e pesquisas que efectuei, só ou acompanhado por pessoas entendidas, localizei mais de uma dezena de estações arqueológicas de várias épocas em Benafim e arredores. O castelo de Salir vem realçar a importância da ocupação árabe nesta região do Algarve. A descoberta de muitos sítios que marcaram a história da humanidade, teve frequentemente como ponto de partida, escritos considerados mais ou menos fantasiosos pelos cientistas (A Bíblia, Ilíada etc...) A Ilíada, poema escrito pelo não menos lendário Homero por volta de 725 A.C., conta-nos a história de um cerco feito a uma cidade, Troia, pelo exército grego em 1220 A.C.
Nos finais do Século XIX, um erudito alemão, Heinrich Schliemann, baseando-se em histórias locais e na Ilíada provou a existência de Troia na Turquia Ocidental, exactamente onde Homero a localizava no seu poema. A fantasia tornara-se realidade...
Espero que nos próximos anos, com o apoio das entidades adequadas e sobretudo com o apoio de todos vós que vivem nesta Freguesia, trazer à luz o passado talvez glorioso, de uma aldeia que hoje é completamente esquecida.
O conhecimento das nossas origens é fundamental na compreensão de quem somos, um povo sem história, é um povo sem identidade, incompleto, uma criança sem pais.
Mito ou realidade, a figura lendária do Príncipe Aben-Afan paira nas memórias de Benafim...
VICTOR BORGES
Ano de Graça de 1240...Aben-Afan, Cônsul do Império Árabe em Xelb (Silves), constrói no coração do Algarve um palácio luxuoso , ninho d´amores passageiros... Apaixona-se então por D.Branca, filha de Afonso III e senhora de Lorvão , cuja imagem formosíssima se materializou perante o nosso Cônsul maravilhado, através das magias sugestivas da fada Alina. Louco de paixão, Aben-Afan resolve raptar a sua formosa cristã, levando-a para o seu palácio encantado escondido nos olivais do Barrocal. Diante dos ramos de murta e de louro - o primeiro, símbolo de amor, o segundo de glória militar - o fogoso Cônsul escolhe a murta...
Isolados do resto do mundo, os dois amantes gozam em plena liberdade, a embriaguez da paixão. Mil promessas, mil beijos! Cavalgadas do nascer ao pôr-do-sol, naquelas colinas ainda virgens, perfumadas pelo alecrim e pelo tomilho, as pedras ainda se recordam daquelas silhuetas irreais montadas em cavalos brancos, percorrendo as várzeas floridas, cristalizando-se numa eterna Primavera... Mas, como todas as paixões, o ramo de murta começa a murchar, depressa chega o tédio e o arrependimento.
Afonso III corre à conquista dos Algarves e, quebrando o encanto, na noite de S.João, Aben-Afan vai defender Silves combatendo valentemente com Mestre Sant´Iago e D.Paio Peres Correia. Aben-Afan acaba por morrer à porta da Azóia...Eis o enredo do poema épico de Almeida Garett, Dona Branca escrito no seu exílio em França, parte no Havre e parte em Paris, entre 1824 e 1825.
Garett faz entrar a história num âmbito literário , mas será que a existência do romântico Aben-Afam é pura ficção?
Em 1906, o Dr. Juiz Francisco Xavier Athaíde Oliveira escreve na sua Monografia do Concelho de Loulé: "Dentro desta Freguesia (Alte) há duas aldeias chamadas Benafim Grande e Benafim Pequeno. Parece que aquela é de origem árabe e nos tempos em que em Silves habitavam os reis Mouros, a casa de campo do Rei Aben-Afan, restos de monumentos têm sido encontrados na sua área e de fácil reconhecimento, seria o seu nome, Aben-Afan, Aben-Afim Benafim..."
Sabemos que grande parte dos nomes das aldeias e vilas do Algarve são de origem árabe, em Benafim existem histórias populares que vêm reforçar a teoria de Dr. Athaide Oliveira, e nas quais ele provavelmente se baseou. Em relação aos "restos de monumentos", nestes últimos anos, ao longo dos passeios e pesquisas que efectuei, só ou acompanhado por pessoas entendidas, localizei mais de uma dezena de estações arqueológicas de várias épocas em Benafim e arredores. O castelo de Salir vem realçar a importância da ocupação árabe nesta região do Algarve. A descoberta de muitos sítios que marcaram a história da humanidade, teve frequentemente como ponto de partida, escritos considerados mais ou menos fantasiosos pelos cientistas (A Bíblia, Ilíada etc...) A Ilíada, poema escrito pelo não menos lendário Homero por volta de 725 A.C., conta-nos a história de um cerco feito a uma cidade, Troia, pelo exército grego em 1220 A.C.
Nos finais do Século XIX, um erudito alemão, Heinrich Schliemann, baseando-se em histórias locais e na Ilíada provou a existência de Troia na Turquia Ocidental, exactamente onde Homero a localizava no seu poema. A fantasia tornara-se realidade...
Espero que nos próximos anos, com o apoio das entidades adequadas e sobretudo com o apoio de todos vós que vivem nesta Freguesia, trazer à luz o passado talvez glorioso, de uma aldeia que hoje é completamente esquecida.
O conhecimento das nossas origens é fundamental na compreensão de quem somos, um povo sem história, é um povo sem identidade, incompleto, uma criança sem pais.
Mito ou realidade, a figura lendária do Príncipe Aben-Afan paira nas memórias de Benafim...
VICTOR BORGES
Belo documentário sobre a minha terra!!obrigado pela vossa participação em mais uma marcha corrida nesta terra do interior algarvio, serão sp benvindos, muito obrigado.
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