quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PRÓXIMA MARCHA - LOULÉ

Falar de Loulé e não mencionar António Aleixo é quase uma heresia. Façamos aqui, nesta semana que antecede a marcha de Loulé, uma evocação desse extraordinário poeta popular nascido em Vila Real de Sto António, no ano de 1899, residindo em Loulé a partir dos 7 anos de idade e falecido nessa cidade com apenas 50 anos, vítima de tuberculose.
Quase analfabeto, exerceu diversas profissões. Começou por ser tecelão (a profissão do pai), cumpriu serviço militar em Faro. Foi GNR, onde esteve pouco tempo, tornando-se servente de pedreiro. Foi emigrante em França e de regresso a Portugal dedicou-se à venda de cautelas, cantando de feira em feira. Foi-se tornando conhecido pela espontaneidade e profundidade dos seus versos, chegando a ser premiado com uma menção honrosa nos Jogos Florais de 1937. Fez amizade com o Prof. Joaquim Magalhães, professor do Liceu de Faro, que começou a passar para o papel a sua poesia e incentivando-o a publicar o 1º livro a que deu o título de “Quando começo a cantar”, de que foram vendidos 1.000 exemplares tantos quanto os editados. A tuberculose que o ataca não o impede de versejar, apesar das dificuldades e da sua vida de homem pobre.
Além das muito conhecidas quadras, deixa também alguns autos com críticas aos costumes da época, à corrupção, aos ricos, aos vaidosos que com um pouco de imaginação poderemos considerar muito actuais.
Ficam, aqui, cinco quadras musicadas e cantadas por Francisco Fanhais, padre e cantor de intervenção que marcou uma época antes do 25 de Abril:

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os Homens são no fundo.

P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?

Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.

Podem ouvir AQUI na voz do padre Fanhais (procurem no nº 17).

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