UMA LINDA E VERDADEIRA HISTÓRIA DE AMOR CONTADA PELA PRÓPRIA
OU COMO A” MACHADINHA” ENCONTROU A FELICIDADE NA MARCHA DOS MACHADOS NOS BRAÇOS DE UMA MARCHANTE.
O meu nome, MACHADINHA, foi-me dado pela minha dona, a Cidália (foto ao lado), que tem muita imaginação e um dia disse-me que esse nome estava relacionado com o sítio onde ela me encontrou – o sítio dos Machados no concelho de S. Brás de Alportel.
Mas já me estou a adiantar aos factos e a começar pelo fim. Não liguem, coisas de cão…..
Recomecemos então. Já foi há muitas luas cheias, nem sei já quantas (nós os cães contamos os dias pelas luas e até lhe uivamos. Os humanos às vezes também andam na lua, diz a minha dona, mas eu nunca vi lá nenhum) , ainda era uma inexperiente cachorra de pouca sabedoria (muito diferente da cadela esperta que hoje sou), encontrava-me meio perdida num local ermo que soube mais tarde chamar-se Machados e, eis senão quando, vejo ao longe um grupo de “marmanjos” que marchavam furiosos como se fossem “tirar alguém da forca” (esta aprendi com a minha dona, mas não sei bem o que significa). Eu costumo andar assim quando ando à procura de algum osso que utilizo para treinar os maxilares e afiar a dentuça. Como pensei que eles também andavam à procura de algum osso, colei-me a eles. Podia ser que sobrassem alguns restos para mim. Pareceu-me gente boa, foram simpáticos comigo e eu não tive qualquer medo. E assim lá chegámos a um campo onde uns “galfarros” corriam e chutavam uma coisa redonda que não tinha feito mal a ninguém. Às vezes não percebo os homens. Correm, saltam sem que desse esforço resulte a descoberta de algo que se coma. Mas a minha dona também diz que não os entende por vezes e nisso estamos de acordo e é por isso que eu gosto muito dela. Eu gosto é de correr atrás de coisas interessantes, como automóveis, bicicletas e de ladrar, até ficar rouca, aos rapazes da minha rua.
Lá estou eu outra vez a divagar (aprendi esta palavra com os marchantes que gritam uns para os outros: vai devagar, mais devagar). Retomemos a narrativa. Os homens, soube mais tarde, estavam a jogar futebol. Não havia por ali, qualquer osso ou resto de comida que me pusesse a alma no seu devido lugar e me descolasse as paredes do estômago. Tinha sido, miseravelmente, enganada. E por ali fui ficando, triste, macambúzia e o que é pior, faminta. Mas uma simpática senhora começou a fazer-me umas festas (gosto mais de festas de homens porque eu sou muito “gaja”, percebem? - mas foi o que se pode arranjar), engraçou comigo e eu com ela. Soube, mais tarde, que os humanos chamavam a este sentimento de “amor à primeira vista”. A senhora convidou-me para ir com ela para a sua casa de Albufeira e eu como nunca recuso convites destes, aceitei ladrando e esfregando-me nela, o que em linguagem de cão significa sim. Além da senhora ser simpática também ajudou muito ela ser de Albufeira. É que me disseram que em Albufeira era um sítio onde havia muitos ossos e muitos bifes. É que eu, também gosto muito, além de roer um bom osso, de comer um belo bife (seja lá o que isso é).
E assim lá entrei numa coisa grande de 4 rodas (era tão grande que até eu tive medo de lá entrar) e lá fui até à casa da tal senhora que fiquei a saber chamar-se Cidália.
Ainda hoje sou feliz nessa casa apesar de descobrir que bifes não eram o que pensava. Os bifes que por ali há em grande quantidade não são para os dentes cá da “je” (os cães educados também sabem falar francês). Também sei inglês – sei dizer “camone”, “gudmorningue”, e “chite”. Aqui em Albufeira quem não spikar línguas é tratado abaixo de cão.
A minha dona ainda, de vez em quando, me leva a essa coisa que ela chama de marchas. E vou voltar aos Machados no próximo Domingo, para matar saudades, mas não pensar sequer em ficar lá. Eu gosto é de Albufeira, uma terra muito turística. Até já lá arrastei a asa a um cãozinho inglês, todo penteado, com um laçarote na cabeça, cheio de peneiras. Ladrei-lhe com ar de conquistadora, mas o parvo não percebeu nada. A minha dona diz para eu não ligar, que os ingleses não conseguem aprender a falar português e que eu, um dia, hei-de encontrar um bom cão português, trabalhador, com bons dentes, boa língua e um bom faro para me ajudar a descobrir aquilo que gosto mais: um bom osso.
Mas o que eu gosto mesmo é de ver aqueles marchantes ao Domingo, todos contentes a divertirem-se e a cuidarem da sua saúde. É que foram eles que fizeram de mim aquilo que eu sou hoje – UMA CADELA FELIZ.
Moral da história: até os cães gostam das marchas.
Esta história está muito bem "rasgada"!
ResponderEliminarMoral da história: as marchas fazem bem ao corpo e à imaginação!
Tem que começar a pensar, tal Ricardo Araújo Pereira, em editar estas crónicas caro amigo! Sucesso garantido! Eu compro!
Caro Nelson, a sua simpatia comove-me.
ResponderEliminarMas devemos, ao longo da nossa vida, termos sempre presente os nossos limites. E eu sei que a minha escrita só é publicável num circuito muito restrito de amigos. É o único valor que tem.