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O CONTADOR
O CONTADOR
O Dias é uma pessoa compenetrada, educada, de boas falas, um pouco tímido até (como diria a velhinha Madalena Iglésias). É também um marchante da velha guarda sempre presente, Domingo a Domingo.
Num passado ainda não muito longínquo ele imitava na perfeição um atleta de alta competição. Marchava, corria, esfalfava-se, mas tinha de chegar à frente de todos. Partia na cauda da coluna só pelo prazer de ultrapassar toda a gente. E insatisfeito com a “humilhação” que nos infligia Domingo a Domingo, ainda tinha o topete e a força física para, ao chegar à meta, retroceder e estabelecer uma ordem de chegada numerando os marchantes à medida que se cruzava com eles.
A voz do Dias era inconfundível: você é o décimo primeiro, você é o número vinte e cinco, você é o quadragésimo, e assim sucessivamente até se aborrecer e voltar novamente no sentido correcto repisando terreno, já por ele calcorreado, irradiando uma frescura que faria inveja a qualquer imitação de Carlos Lopes.
Era conhecido (ele nunca o soube) pelo “contador”. Esta alcunha não tinha qualquer intenção pejorativa, era, sobretudo, uma forma carinhosa (para quem não lhe sabia o nome) de o identificar. Talvez que alguns ressabiados e invejosos (muito poucos) da sua forma física achassem que assim o diminuíam, mas ele era superior a tudo isso e os bem intencionados sempre o trataram como merecia: com respeito e amizade.
O Dias fazia parte do espectáculo e contribuía para a popularidade das marchas. Uma arreliadora hérnia discal impede-o hoje das mesmas performances atléticas, mas continua ainda a brindar-nos com a sua presença, não tão espectacular, mas igualmente amiga e simpática.
Bem haja companheiro Dias e que se mantenha por aqui por muitos mais anos e que eu cá ande, também, para o poder sempre cumprimentar.
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