A vantagem de ter uma idade já avançada e com poucos anos para oferecer à vida, faz-nos recordar, como todos os velhos vivendo do passado e chateando os mais novos com histórias da juventude, alguns factos que marcaram o calcorrear pela puberdade. Ao viajar de Faro ao Parque das Cidades, ao ouvir as apitadadelas de tantos dentro de um comboio e do som que o António tirava do seu aparelho, lembrei-me de um filme de 1952 de Fred Zinnemann com o extraordinário Gary Cooper e a não menos extraordinária e bela Grace Kelly (essa a do Mónaco). O filme denominava-se "O Combóio Apitou Três Vezes". Retratava a história heróica de um xerife que, obrigado pela cobardia dos seus concidadãos, ter de enfrentar sozinho um bando de criminosos. Nestes tempos modernos o nosso xerife não se chama Will Kane, como o do filme, mas sim Tony Saints e não teve esse azar. Reuniu mais de cem ajudantes, meteram-se num combóio, apitaram, não três vezes, mas dezenas, e foram à procura do bando de meliantes. Não encontraram nenhum apesar de correrem todos os arredores, desafiantes, mas de criminosos nem vê-los. Até a torre de Pisa foi vasculhada em todos os cantos e nada. Pudera, com tanta unidade, com tanto destemor, com uma arremetida tão despudorada, quem se aventuraria a enfrentar tamanha rusga de folgazões.
Foi mais um apita o combóio do Pegadas. Foi mais um contributo para minimizar os resultados negativos da nossa CP. Pelo menos hoje um ordenado ficou pago sem recurso ao orçamento geral do estado.