segunda-feira, 8 de março de 2010

AS CRÓNICAS DO JORNAL "O ALGARVE"

O CASAL LOUREIRO OU A LENDA DAS AMENDOEIRAS EM FLOR

Antes de Portugal existir já o Al-Gharb (actual Algarve) era ocupado pelos árabes e em Chelb (hoje Silves) reinava um belo mancebo de seu nome Ibn-Almundim, instalado no belo castelo de pedra vermelha, ainda hoje existente e com uma estonteante vista para o campo e para o rio Arade.
O príncipe, nas suas incursões guerreiras, em defesa dos seus domínios, apresou, um dia, um navio proveniente do norte da Europa, que desconhecedor da sorte que o esperava, acostou a uma das belas praias do Al-Gharb.
Esse navio transportava a bela princesa Gilda, de brancas carnes e loiros cabelos, por quem o árabe, tomando-se de amores, acabou por desposar.
Mas Gilda, saudosa das paisagens brancas da neve do seu país, definhava dia a dia. Contrariando as palavras do poeta Augusto Gil, “uma infinita tristeza, uma funda turbação, entra em mim, fica em mim presa, cai neve na natureza e cai no meu coração”, a bela Gilda sentia-se morrer aos poucos, para enorme sofrimento do seu amado Ibn-Almundim, que tudo fazia para a consolar. Como último recurso e suprema inspiração, manda plantar milhares de amendoeiras ao redor do castelo. Na Primavera seguinte, milhões de flores cobriam os campos de Chelb e a princesa, do alto das ameias do castelo pode reviver as alvas paisagens do seu país, sentindo que a ele regressava. Um radioso brilho tornou a inundar os belíssimos olhos azuis de Gilda. A alegria de viver voltou e o príncipe feliz, agradecia a Alá a ideia maravilhosa que lhe tinha dado.
Sempre relacionei esta encantadora lenda com as nossas marchas, não só pela beleza das paisagens do nosso Algarve, por alturas da floração das amendoeiras, mas também porque, salvo as devidas distâncias e comparações, me faz lembrar um casal de marchantes, que muito aprecio, e que possuem um apartamento no Algarve onde costumam passar férias.
Os Loureiro, a Dulce e o César, residem no concelho de Cantanhede, numa aldeia denominada Arazede, lá para as bandas de Coimbra. Um dia alguém lhes ofereceu um calendário das nossas marchas e resolveram experimentar. Foi amor à primeira vista quais Ibn-Almundim e Gilda.
Agora a Dulce quando se debruça nas janelas de sua casa e vislumbra os campos de Arazede, o seu olhar torna-se mortiço de saudade e ao César só lhe resta encher o depósito do seu automóvel, carregar as malas e …….ala que se faz tarde……Algarve, aí vamos nós. O seu olhar, qual Gilda perante as amendoeiras em flor, brilha de satisfação e alegria pela iminência da chegada. A partida é sempre ao Sábado, para que não se perca a marcha de Domingo e o regresso a um Domingo de tarde, para não se perder a marcha da manhã.
Estas viagens, para as terras algarvias, tornaram-se cada vez mais frequentes e estou certo que não são as amendoeiras em flor que trazem os Loureiro até nós. Acredito que o clima, os amigos, o prazer de marchar em grupo alegre e entusiasta, é o motivo de tantas viagens para cima e para baixo.
Além do prazer que temos na vossa presença, fica sempre bem nas listagens dos marchantes o nome de gente de tão longínqua terra.
Será que podíamos viver sem as marchas? Diz a Dulce. Podiamos, mas não seria a mesma coisa, diz o César.

Obs: Por coincidência, a Dulce e o Cesar chegaram no sábado passado a tempo da marcha da Carrapateira e vão regressar a 21 depois da marcha da Conceição de Tavira. Cumpre-se, assim, a tradição e mais uma vez se prova a força magnética do movimento marchante.

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