segunda-feira, 22 de novembro de 2010

AS CRÓNICAS DO JORNAL "O ALGARVE"

CONCURSO TSHIRT MOLHADA
João (nome fictício a pedido do próprio) é um marchante entusiasta. Nada o impede de comparecer todos os Domingos, faça chuva ou faça sol, nos nossos encontros dominicais.
O João faz-me recordar o meu amigo Paulo que reside numa conhecida aldeia algarvia, ao pé da igreja e na rua que acede ao cemitério. Sempre que um funeral lhe passa à porta o bom do Paulo sai imediatamente de casa e acompanha o féretro, sem mesmo cuidar de saber a identidade do falecido. Um amigo comum costuma dizer que quando não virmos o Paulo a acompanhar o funeral é porque ele vai dentro do caixão. Apesar de mal comparado e da morbidez desta crónica (espero ser perdoado) o João é tal e qual o Paulo. Quando não virmos o João numa marcha é porque essa marcha não existe.
Ora na marcha do dia 29 de Novembro do passado ano, em Espiche, todos estão lembrados que, logo no início, um dilúvio desabou sobre os corajosos marchantes. Muitos desistiram de enfrentar os elementos, abrigando-se nos cafés e telheiros mais próximos, mas o João com o seu tradicional entusiasmo, insensível à chuva, acompanhado pelos habituais e indefectíveis “maduros”, não prescinde do seu dominical exercício físico e lá vai ele à frente do pequeno pelotão de corajosos.
Naquele Domingo o João vestia uma camisola de material sintético, que depois de absorver tanta água se tornou mais rija e abrasiva. O vento e os movimentos da marcha contribuíam para que a camisola roçasse no peito e friccionasse, ferindo, os mamilos endurecidos pelo frio.
No final da marcha, ainda a quente, o João queixava-se que lhe doíam as mamas. Aproveitámos a deixa e insinuámos, malevolamente, que talvez por qualquer fenómeno inexplicável, ele estaria a mudar de sexo, sendo o primeiro sintoma o crescimento anormal dos seios. O João, homem bem-humorado, que aceita todas as brincadeiras, porque sabe da camaradagem e amizade com que são proferidas, mandava-nos, simpaticamente... “à fava”.
Na marcha do Domingo seguinte, em Albufeira, senti curiosidade em saber do estado de saúde dos mamilos do João e do tratamento que ele lhes tinha dado. O malandro, rindo desalmadamente, conta-me que ainda mantinha, orgulhosamente, a sua masculinidade, que a mudança de sexo não se tinha processado e que os ferimentos nos seios tinham contribuído para um final feliz. Deixo-vos as palavras proferidas pelo João, acompanhadas de saudáveis e ruidosas gargalhadas: “A minha mulher levou a semana toda a besuntar-me os mamilos com vaselina. Foi uma semana fantástica de consequências inconfessáveis. Sabes que vou usar sempre, a partir de agora a mesma camisola e, se não chover, vou despejar sempre umas litradas de água no meu peito, até que a minha mulher não desconfie da marosca”.
É este o espírito das marchas. Alegria, brincadeira, amizade e saudável exercício físico. Bastam umas sapatilhas cómodas, uns calções ou fato de treino e uma camisola, para usufruir dos benefícios da marcha e da alegria com que as mesmas decorrem.

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